As altas nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha afetam, em cascata, os preços nos supermercados e toda base econômica do país
Desde 2016, a Petrobrás atrela o preço da gasolina ao custo do barril de petróleo em dólar americano, favorecendo o mercado internacional e os acionistas da empresa, enquanto o real segue sendo desvalorizado pelo atual governo. Isso prejudica toda a economia, envolvendo: frete, preço dos alimentos, o custo do gás de cozinha etc.
Os acionistas, que são investidores privados, ganham muito dinheiro em lucros e dividendos da estatal em detrimento do sofrimento de grande parte da população, que é de baixa renda. Desde a adoção dessa atual política de preços, a gasolina já subiu 82,4%.
O diesel, 93,2%, e o gás de cozinha, 85%. Só em 2021, essa ação perversa na economia brasileira elevou o preço da gasolina em 46% e contribuiu para que a inflação fechasse o ano passado em mais de 10%, algo que não ocorria desde 2015.
Infelizmente, a alta do petróleo no mercado internacional, motivado ainda pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, tem agravado ainda mais a vida econômica de muitos brasileiros. Os trabalhadores acumulam perdas salariais e os reajustes não cobrem sequer a inflação. Análise preliminar do Dieese até 9 de março, no primeiro trimestre, 60,5% dos 119 reajustes analisados pelo órgão ficaram abaixo da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE).
Além disso, no governo Bolsonaro, os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), estão sem aumento real do benefício.
O economista Fábio Sobral explica, em reportagem ao portal Brasil de Fato, as consequências (em cadeia) causadas pelo desmonte da Petrobrás:
“A Petrobras sobe os combustíveis, os combustíveis são a base da matriz energética e do transporte de pessoas e cargas, então isso vai provocando uma reação em cadeia. Reduz o número de movimentações das pessoas, aumenta o preço dos fretes. Isso faz com que as pessoas gastem mais em combustíveis. Se elas gastam mais em combustível, elas deixam de gastar em outras áreas do consumo. Então o comércio sofre, o comércio sofrendo a indústria sofre, e isso vai em cadeia até o começo do processo produtivo”, explica Sobral.
Desse jeito, os brasileiros têm gastado cada vez mais nas compras do mês e levado menos coisas para casa, com os carrinhos ou as cestas mais vazias. Segundo pesquisa da consultoria global Kantar, as famílias brasileiras reduziram em 5,6% o número de produtos de uma cesta de compras com 120 categorias, em 2021.
E aumentaram os gastos em 8,6%, em relação a 2020. Por mais distante que isso possa parecer, e muita gente acha que o aumento da gasolina afeta quem utiliza automóveis ou coisa parecida, o impacto também chega nas gôndolas dos supermercados.
Ou seja, afeta a base da economia, impede que as pessoas posam usufruir das coisas mais básicas, como gás, arroz, feijão, carne, frango etc. “O combustível aumentou muito e é um insumo fundamental para a produção, escoamento e comercialização, e tem pesado demais sobre os preços dos alimentos”, diz Alexandre Ferraz, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em entrevista ao portal da CUT – Central Única dos Trabalhadores.
Confira os reajustes em alguns alimentos que fazem parte da base da nossa alimentação: a farinha de trigo ficou, em média, 4,46% mais cara, o preço do macarrão com ovos subiu 4,24%, o de biscoitos, 2,62% e o do óleo de soja, 5,79%. Esse reflexo foi medido em um levantamento solicitado pelo Jornal Estadão, feito pela startup Varejo 360, com base nos 12 primeiros dias de março – superando o mês de fevereiro inteiro.
Alta na gasolina e dependência externa de fertilizante
O conflito entre Rússia e Ucrânia afeta não somente o preço da gasolina, como também a produção dos fertilizantes, que influencia diretamente na produção agrícola brasileira e na alimentação da nossa população. Muitos fertilizantes têm origem russa. A Rússia responde por 30% das importações brasileiras de fertilizantes. Isso está refletindo no preço e na disponibilidade desses produtos.
Em 2021, o Brasil comprou 41,6 milhões de toneladas desse insumo (de outros países), dos quais a Rússia foi o principal fornecedor, com 22,3% desse volume (9,3 milhões de toneladas), seguido por China (15,2%, ou 6,3 milhões de toneladas) e Canadá (10%, ou 4,2 milhões de toneladas). Os russos produzem quantias enormes de nutrientes, como potássio e fosfato, que são ingredientes essenciais para os fertilizantes, utilizados para o crescimento das plantações.
Cinco estados brasileiros são responsáveis por 68% das importações de fertilizantes: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Sendo que paulistas (35,9%) e mineiros (33,1%) respondem por grande parte desse total de importações, ou seja, uma maior dependência deste produto.
Esses dados foram obtidos a partir de um estudo do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), vinculado à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), através de dados levantados pela Esalq-Log (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da USP).
“Tem uma série de razões. O Brasil fez a opção, e acho que isso já tem mais de quatro décadas, de canalizar o investimento do país para outras áreas que não a priorização de produção de fertilizantes. Temos a Petrobrás, uma das maiores empresas de gás e óleo do mundo, mas há alguns anos a Petrobrás não vem investindo na área de produção de adubos nitrogenados. E há questões naturais. O Brasil, em função do solo, da questão mineral, não tem grandes jazidas de fósforo e potássio”, afirma o presidente da Embrapa, Celso Moretti, em entrevista à revista Exame.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo (atrás de China, Índia e Estados Unidos) e o maior importador mundial desses insumos. A soja é a principal cultura consumidora de fertilizantes no país. Segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, somada com o milho, a cana-de-açúcar e o algodão, essas quatro culturas absorvem mais de 90% do fertilizante produzido ou importado pelo Brasil.
A saída da Petrobrás de um setor em crescimento, tanto de demanda quanto de preços, como o de fertilizantes, e o PPI, demonstram muito do caráter lesivo ao país da atual política de privatizações imposta por governos anteriores e acelerada cada vez mais por Bolsonaro.