Na sexta-feira (17), foram encontrados e identificados os corpos de Bruno Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio – Funai, e Dom Phillips, jornalista, colaborador do jornal The Guardian.
Eles desapareceram no dia 05/06, ao visitar uma localidade conhecida como Lago do Jaburu, no oeste do rio Amazonas. Ambos estavam em trabalho para a realização de entrevistas com indígenas.
A confirmação da morte de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips gerou revolta no Brasil e no mundo. De acordo com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), eles haviam recebido ameaças.
Os restos mortais foram encontrados após confissão do já preso Oseney da Costa de Oliveira – conhecido na região por “Dos Santos”. Ele afirmou que cometeu o crime junto com seu irmão, Amarildo dos Santos – o “Pelado”. Bruno e Dom tiveram seus corpos decepados, esquartejados e queimados.
Mais um suspeito preso e barco encontrado
No sábado (18), foi preso o terceiro suspeito – Jeferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha”. Ele se entregou na delegacia de Atalaia do Norte, no Amazonas, após ser considerado foragido. De acordo com a Polícia Federal, ele será interrogado e encaminhado para audiência de custódia.
No dia seguinte, domingo (19), após informações dadas por Jeferson da Silva, a lancha em que Bruno e Dom viajavam foi encontrada. Ela estava localizada no rio Itaquaí, nas proximidades da comunidade Cachoeira, no extremo oeste do Amazonas.
De acordo com nota da Polícia Civil da região, a embarcação foi localizada a cerca de 20 metros de profundidade, emborcada com seis sacos de areia para dificultar a flutuação.
Em nota divulgada pelo comitê de crise, coordenado pela PF, a instituição diz que a apuração continua e novas prisões podem ocorrer. Lembrando que a procura por Bruno e Dom teve início no mesmo dia do desaparecimento, feito por integrantes da Univaja.
Brasil, o país que mata seus defensores
A Ong Global Witness, em 2021 divulgou um levantamento, mostrando que a contagem de mortos de militantes dos últimos dois anos aumentou no mundo e já é o dobro da registrada em 2013, quando o estudo começou a ser feito, sendo a maior parte na América Latina. Dos 227 ambientalistas mortos no planeta em 2021, 20 foram no Brasil.
Ou seja, o Brasil está entre os países que mais matam militantes que apontam os danos causados pela exploração madeireira, grilagem, queimadas, agropecuária, construção de barragens sem estudos de impacto ambiental, monocultura, mineração, turismo predatório e exploração industrial de recursos naturais com vistas ao lucro.
Infelizmente, o governo Bolsonaro é marcado pelos casos de exploração de recursos naturais, invasões as terras indígenas e danos ao patrimônio. A FUNAI – Fundação Nacional do Índio, que deveria ser responsável pela promoção e proteção aos direitos dos povos indígenas, pouco tem feito pelos povos originários, num completo descaso.
Bruno foi destituído por Sergio Moro e, indiretamente, morto pela irresponsabilidade de Bolsonaro.
Não se pode dizer que os únicos responsáveis são os que mataram, nem só os que mandaram, mas há sim responsabilidade dos que pregam a violência contra os povos indígenas, tiram a estrutura dos servidores que defendem a floresta e seus povos, esses sim, podem não ser culpabilizados.
Mas Bolsonaro, sua milícia e todos que os apoiam são responsáveis pela morte não apenas desses dois, mas de dezenas de indígenas e servidores e militantes pelos direitos humanos, do meio ambiente e dos indígenas tanto na Amazonia como em todo o Brasil.
É a política anti-indígena do Brasil de Bolsonaro que avança a passos largos e os direitos dos povos originários são violados permanentemente.
Isso está marcado em dois grandes exemplos: a tese do marco temporal para travar as demarcações e o Projeto de Lei 191/2020, que pretende autorizar a mineração em terras indígenas.
Todos e todas que não se indignam, não lutam por justiça e são contra esse governo, têm, de algum modo, as mãos sujas de sangues de indígenas, Dons, Brunos, que morrem todos os dias na guerra da barbárie contra a civilização que Bolsonaro declarou contra o Brasil.
A AEPET-BA reafirma seu compromisso com a democracia, justiça e soberania nacional, manifesta sua solidariedade as famílias de todas as vítimas e lutará para que o Brasil volte a se encontrar com a justiça social, com a paz e que todos os incentivadores de violência, mandantes e assassinos sejam responsabilizados.