Em 20 de novembro comemora-se no Brasil, o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data foi instituída oficialmente pela Lei n.º 12.519, de 10 de novembro de 2011, e remete ao dia em que foi morto o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, no ano de 1695. O Quilombo de Palmares situava-se na Serra da Barriga, na antiga Capitania de Pernambuco — hoje integra o município de União dos Palmares, no estado de Alagoas —, e foi formado por volta do ano de 1597.
A data é mais uma oportunidade para refletir acerca da situação atual das desigualdades entre os grupos raciais, especialmente quando o olhar se dirige para um espaço com esmagadora maioria negra, como é o caso da Região Metropolitana de Salvador (RMS). E mais ainda quando as observações se concentram em um importante espaço da vida em sociedade, onde se configura, em grande medida, o lugar que as pessoas vão ocupar na hierarquia social, como é o mundo do trabalho.
Em 2017, 8 em cada 10 moradores de Salvador eram negros, ou seja, se autodeclaravam de cor preta ou parda, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE. Os negros (pretos + pardos) somavam 2,425 milhões, ou 82,1% das 2,954 milhões de pessoas que viviam na cidade naquele ano. Por isso mesmo, além da capital da Bahia, Salvador tem o posto de capital negra do país. A liderança do município em relação à participação de negros no total da população se deve sobretudo à maior presença de pessoas que se declaram de cor preta. Elas eram, em 2017, quase 4 em cada 10 moradores de Salvador, 36,5% do total da população. É também a maior proporção entre as capitais brasileiras, e o equivalente a 1,078 milhão de pessoas.
No entanto, quando se trata de estatísticas por cor ou raça, Salvador também está no topo de um outro pódio: o da desigualdade salarial. Na média dos três trimestres de 2018, o rendimento dos trabalhadores que se declararam de cor preta ficou em R$ 1.640 na capital baiana, o equivalente a 1/3 (ou -67,0%) do que ganhavam os trabalhadores que se declararam brancos (R$ 4.969), segundo a PNAD Contínua Trimestral.
Era a maior diferença salarial entre brancos e pretos dentre as capitais brasileiras, também significativamente superior às diferenças no Brasil e na Bahia como um todo. No país, nos três primeiros trimestres de 2018, os trabalhadores de cor preta tiveram rendimento médio de R$ 1.608, pouco mais da metade (55,6%) do que ganharam os de cor branca (R $2.891).
Segundo ainda dados divulgados pelo Dieese, a taxa de desemprego dos negros é sistematicamente mais elevada que a dos não negros. Em 2007, foi de 22,7% entre os negros e 15,6% entre os não negros. A análise por cor ou raça e sexo mostrou que são as mulheres negras as que têm maiores dificuldades de inserção ocupacional, com uma taxa de desemprego de 26,4%, a mais elevada entre todas as seis regiões metropolitanas pesquisadas pela PED. A segunda maior taxa de desemprego total pertenceu aos homens negros, com 19,2%, seguidos pelas mulheres e homens não negros, com 18,3% e 13,1%, respectivamente.
Infelizmente, esse quadro não mudou muito. Diariamente, aumentam casos de racismo, discriminação e é alta a mortalidade da população negra no maior estado negro do País.
Como dizer, então, que realmente há uma consciência negra quando os índices de desigualdades entre negros e brancos continuam altos e os negros continuam sendo as maiores vítimas da violência racista e policial?
Consciência negra, um pensamento para o ano todo. Derrotar o racismo estrutural e institucional é tarefa de todos e todas.
Viva Dandara e Zumbi dos Palmares, a luta quilombola. Pelo fim do genocídio da juventude negra, do encarceramento em massa e por um país para todos sem racismo.