Vivemos em uma era altamente tecnológica em que nossas vidas vêm sendo moldadas pelo uso das redes. As crianças e os adolescentes já nascem nesse mundo conectado à internet, onde o que parece ser entretenimento e diversão, em segundos, pode se transformar em um pesadelo.
A infância e adolescência são fases de desenvolvimento, onde não se tem noção de riscos e tomadas de decisões assertivas. Por sua vez, as redes sociais e a internet são ambientes ilimitados com várias possibilidades. A junção desses dois fatores forma o cenário perfeito para que pessoas mal-intencionadas se aproveitem da ingenuidade de crianças e adolescentes.
Dentre as redes sociais, os aplicativos de conversação e troca de mensagens são os preferidos, não só dos usuários menores de idade, como também dos criminosos. A possibilidade de anonimato através dos perfis fakes abre o caminho para a violência no ambiente digital.
Plataformas como instrumentos de violência
O Discord é um dos aplicativos de mensagens popular pela realização de transmissões ao vivo que não ficam salvas, a menos que alguém registre fora da plataforma. Recentemente, uma reportagem do Fantástico expôs como a ferramenta estava sendo usada por criminosos para práticas violentas contra adolescentes.
Tudo começa com desafios inofensivos que divertem os telespectadores das transmissões, mas vão evoluindo até que cheguem na violência contra si ou contra animais, sempre em prol de um “entretenimento”. Uma vez dentro dessas comunidades, os usuários são impossibilitados de sair, isso porque os criminosos que administram os grupos ameaçam os integrantes com dados pessoais e fotos comprometedoras.
As plataformas não se responsabilizam pelo que é divulgado nelas e agem para retirada de conteúdos apenas sob ordem judicial, o que mostra como o controle dos crimes digitais contra crianças e adolescentes, é precário e carece de atenção, principalmente dos responsáveis.
O papel dos pais
A falta de monitoramento e fiscalização dos pais facilita a transformação da internet de fonte de informação e entretenimento para um ambiente que oferece riscos. Segundo dados da pesquisa TIC Kids Brasil Online, 47% dos usuários das redes sociais com idade entre 9 e 17 anos não têm acompanhamento ou verificação dos responsáveis.
No cenário atual, esses dados emitem um alerta para que os pais protejam seus filhos e filhas dos perigos da internet. Segundo o Ministério dos Direitos Humano e da Cidadania, os principais malefícios da rede são:
- Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes;
- Cyberbullying e assédio virtual;
- Exposição a conteúdos inadequados;
- Manipulação para abuso ou exploração sexual (Grooming);
- Grupos que humilham alguém e transmitem nas redes sociais (Happy splapping);
- Envio de fotos ou vídeos com conteúdo sexual para outra pessoa (Sexting);
- Chantagens de propagação de imagens ou vídeos com conteúdo sexuais (Sextorsão).
Diante de tantos perigos, a orientação dos pais e responsáveis é primordial. Pequenas ações podem evitar os prejuízos à saúde mental e física das crianças e dos adolescentes no ambiente digital, por exemplo:
- Limitar o uso de telas: quanto mais tempo, mais exposição e maiores os riscos. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (BPS), o tempo de uso do aparelho deve ser definido conforme a faixa etária;
- Monitoração constante: com o intuito de conhecer os conteúdos que os filhos consomem e compartilham na internet, é interessante revisar, no final do dia, os acessos e as postagens que a criança fez;
- Diálogo aberto: é importante manter um ambiente saudável para que a criança se sinta confortável para dialogar, tirar dúvidas e compartilhar alguma situação que esteja vivendo na internet;
- Utilizar os recursos de controle parental: alguns aplicativos apresentam uma área específica para monitoramento da atividade da criança na rede social. No Instagram a função é conhecida como “Central da Família”, e no TikTok como “Pareamento Familiar”.
Por fim, vale ressaltar que demonizar a internet não é o caminho. As redes sociais não se resumem a perigos e desvantagens, pois fornece momentos de interação e construção de identidade valiosos no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. O caminho certo é o de orientação, fiscalização e diálogo.