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Em videoconferência, o presidente da empresa, falou sobre o balanço da empresa e sobre a redução de custos

Teve grande repercussão na mídia, a declaração do presidente da Petrobrás Castello Branco, no dia 15/05, em videoconferência aos analistas, de que o distanciamento social provocado pela pandemia da COVID-19 mostrou que é possível a empresa trabalhar com 50% do efetivo nos escritórios. Com isso, ameaçou, a empresa poderá liberar vários prédios e reduzir custos.

Aos trabalhadores, dias antes, a empresa por meio de um comunicado não oficial, falou sobre as mudanças, reestruturações e a redução de remunerações por todo o sistema Petrobrás. Está no documento que cabe a cada diretoria a responsabilidade de decidir quais funções terão as reduções estabelecidas de acordo com a otimização organizacional. Com as mudanças, a proposta da Petrobrás é reduzir para 30 mil o número de trabalhadores próprios até 2023. No ano passado, 51,9 mil trabalhadores continuavam efetivos, um número bem menor a 2011 quando havia 81,9 mil petroleiros no quadro de pessoal. Em quase uma década, o corpo técnico da companhia reduziu drasticamente.

Além de promover a saída dos trabalhadores da empresa, por meio de Programas de Incentivos à Demissão Voluntária (PIDV), decidiu reduzir os salários dos trabalhadores, com base no plano de resiliência. Para se contrapor à medida, as Federações dos Petroleiros (FNP e FUP) precisaram recorrer à Justiça para manter a remuneração integral dos petroleiros – inclusive aos de regimes especiais – e a jornada de trabalho. Na Bahia, o jurídico da Petrobras já foi notificado pela assessoria jurídica do Sindipetro-BA do teor da liminar proferida pelo desembargador do Trabalho, Rubem Dias do Nascimento Junior, do Tribunal Regional do Trabalho 5ª Região, que obrigou o pagamento integral dos salários dos funcionários.

Balanço da empresa gera dúvidas

Nessa mesma videoconferência, no dia 15/05, Castello Branco apresentou os resultados obtidos pela empresa no primeiro trimestre: prejuízo de R$ 48,5 bilhões, o pior em toda a história da empresa no mesmo período. Sob o olhar mais acurado, alguns analistas alertaram à sociedade sobre esse resultado negativo que esconde segundas intenções. É importante considerar que nesse trimestre o preço do barril ainda estava a US$ 50 porque a crise começou em fevereiro.

Para o economista Eduardo Pinto, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), o prejuízo é contábil, não operacional. As operações da empresa tiveram lucro no período, inclusive, com melhor resultado se comparado ao mesmo período de 2019.  As exportações de derivados de petróleo aumentaram em 36%, sendo que duas refinarias, que estão à venda, contribuíram para isso: a RLAM (Bahia) e RNEST (Pernambuco). Ambas produzem combustível marítimo (bunker) cujo baixo teor de enxofre atende à nova regulação da Organização Marítima Internacional (IMO). Das 13 refinarias, 8 estão à venda.

Nesse primeiro trimestre, foram R$ 35 bilhões de geração operacional de caixa, 97% a mais do que foi registrado no mesmo período de 2019, segundo levantamento da Subseção do Dieese. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 37,504 bilhões, alta de 36,4% frente os R$ 27,4 bilhões de igual período de 2019.

Por isso, o prejuízo de R$ 48,5 não foi operacional. “A Petrobrás fez uma testagem da desvalorização dos ativos (impairment) para justificar o resultado. Foi um verdadeiro chute técnico quando fez a projeção do que poderá acontecer daqui a de cinco anos, um futuro tão incerto até para a própria empresa” explica o economista. Nesse cenário de incertezas, a Petrobrás realizou uma projeção futura com base no presente e depreciou os ativos.

Um verdadeiro exercício de adivinhação da conjuntura futura, digno de Mãe Diná, pondera outro economista e aposentado da Petrobrás, Cláudio da Costa Oliveira. Para ele, a estratégia tem um único objetivo. “O roteiro para o fim da Petrobras continua em andamento e firme nos trilhos. Pandemia de coronavírus ou briga na OPEP não alteram os objetivos que incluem não só a destruição da empresa e sua história, como do orgulho de sua força de trabalho que vem sendo submetida a todo tipo de humilhação”, desabafa o petroleiro. O aposentado, com base nas suas análises, contesta os dados apresentados no balanço e critica a gestão Castello Branco pelo desmonte da estatal.

A funcionária da Petrobrás e, também, economista, Rosangela Buzanelli Torres, se soma a opinião dos colegas. Em um artigo divulgado na página da Revista Fórum, explica que nos impairments, as baixas contábeis, chegaram a R$ 65,3 bilhões. Chama a atenção para a ordem de grandeza desse impairments na Petrobrás quando comparado com outras grandes petrolíferas.

A Total, por exemplo, fez impairments de US$ 3,6 bilhões, quatro vezes menor do que os US$ 13,5 bilhões depreciados pela Petrobrás. No mesmo período, a Exxon Mobil registrou impairments de US$ 2,8 bilhões; a Sinopec, de US$ 1,5 bilhões; a BP, de US$ 1,1 bilhões e a Shell de apenas US$ 750 milhões.

Segundo Rosangela, a “visão e a pequenez desse pensamento propõem reduzir a maior empresa do país – e uma das maiores do mundo no setor do petróleo – a uma empresa cuja principal missão é gerar valor financeiro para os acionistas privados, ao invés de atender o povo brasileiro, seu acionista majoritário, abastecendo o mercado interno com preços justos e competitivos, sem perder sua lucratividade”.

Na crise da pandemia, as maiores empresas de petróleo e energia do mundo, estatais ou privadas, estão cuidando da integração vertical para poder enfrentar o que se avizinha no futuro próximo. Essa integração vai garantir que, diante das mudanças geopolíticas e das oscilações de preços e das demandas do mercado internacional, a autonomia na área energética.

A AEPET-BA é contrário ao desmonte da Petrobrás, por anos vem defendendo que a empresa continue sendo estatal a serviço dos brasileiros.


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