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A primeira descoberta do petróleo em área terrestre no Brasil ocorreu na Bahia, especificamente, em Salvador, em 21 de janeiro de 1939, quando jorrou o produto em Lobato. Apesar de ter sido considerado antieconômico, o poço foi o marco fundamental no longo trajeto da autossuficiência.

Dois anos depois, em 14 de dezembro de 1941, o petróleo jorrou no primeiro campo de produção comercial, em Candeias, no Recôncavo Baiano. Era o governo de Getúlio Vargas e nacionalistas se mobilizavam para que o Estado assumisse o controle das reservas brasileiras, antes que as multinacionais se apropriassem do nosso petróleo.

Com as descobertas de petróleo e gás em solo brasileiro, pelo Conselho Nacional do Petróleo (CNP), embrião do que viria a ser a Petrobrás, as multinacionais aumentaram a pressão para explorar o petróleo brasileiro, enquanto diversos grupos nacionalistas iniciaram a campanha “O petróleo é nosso!”, em 1948. Foi uma frente de resistência importante contra os entreguistas e de pressão sobre o governo e parlamentares, defendendo que o insumo deveria ser produzido por empresas de capital nacional.

A forte mobilização popular levou, em 03 de outubro de 1953, ao presidente Vargas a promulgar a Lei 2.004, que instituiu o monopólio do petróleo e criou a Petrobrás.  Com a Lei, passaram a constituir monopólio da União: a) a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo; b) a refinação do petróleo, nacional ou estrangeiro; c) o transporte (marítimo ou por meio de condutos) de petróleo e derivados produzidos no País.

Esse monopólio seria exercido pela União, por meio do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), como órgão de orientação e fiscalização, e por meio da sociedade por ações do Petróleo Brasileiro S.A. e suas subsidiárias, como órgãos de execução. E foi assim que a estatal conduziu a exploração e produção até o fim do monopólio em 1997.

Na Bahia, o campo de Candeias e de Itaparica, este último também descoberto em 1941, foram os que inicialmente abasteceram de petróleo e gás, a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), fundada em 1950. Uma das razões da escolha da localização da Refinaria foi exatamente a proximidade com o campo Candeias distante mais ou menos seis quilômetros de Mataripe. Naquele período, Candeias era o campo de maior produção.

Candeias 1 completa 80 anos de funcionamento, agora em dezembro. Por isso, a AEPET-BA, junto com as entidades que integram o Fórum em Defesa da Petrobrás, decidiu preparar várias atividades para marcar a data tão importante para o Brasil e a Bahia. A programação completa será divulgada em breve.

Venda de Candeias 1

Infelizmente, a Petrobrás colocou à venda o campo de Candeias, com mais 13 outros campos terrestres de petróleo e gás, localizados na Bahia. Em dezembro do ano passado, a Ouro Preto Energia Onshore, subsidiária integral da 3R Petroleum adquiriu os 14 campos por US$ 250 milhões.

O Polo Recôncavo possui campos localizados nos municípios de Candeias, Salvador, Santo Amaro, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé e Simões Filho.

 

Produção de Candeias 1

O poço Candeias 1 durante seu pico de produção, em 1959, chegou a produzir mais de 15 mil barris/dia (em 2017, produziu cerca de novecentos barris/dia). Depois de Candeias, foram descobertos os campos de Dom João, em 1947, e de Água Grande, em 1951. Este último, em 1960, ano do pico de sua produção, produziu 50 mil barris/dia (em 2017, produziu mais de mil barris/dia). Embora seja madura essa bacia, o volume de petróleo remanescente é maior do que todo o volume já extraído até hoje.

Esses três campos – Candeias, Dom João e Água Grande – continuam em operação. Mesmo assim, foram colocados à venda pela gestão entreguista de Castello Branco.

Na Bahia, existem outros campos em produção, maduros e marginais, cujo potencial produtivo remanescente depende do investimento apropriado em técnicas de recuperação avançada de petróleo. A revitalização desses ativos e o consequente aumento da produção de petróleo terrestre no estado são importantes para diversos municípios, onde a Petrobrás está instalada.

Esses municípios, em geral, têm baixa renda e baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) e os royalties do petróleo pesam significativamente em seus orçamentos. Segundo estudo do IBGE, 269 municípios baianos receberam royalties de petróleo em 2018. No total, em todo o Nordeste somavam 577 localidades.

Em vez de revitalizar os campos, na Bahia, a Petrobrás promove o maior desmanche de sua história, com graves consequências para a economia regional.

A Petrobrás era a principal produtora de petróleo em campos terrestres, respondendo por mais de 96% da produção nacional. A Bahia aportou com grande parte dessa produção.

Com a dedicação de seus trabalhadores, a Petrobrás construiu o maior parque de refino da América Latina, desenvolveu a indústria nacional, tornou o Brasil autossuficiente, em 2006, e descobriu o pré-sal, que contém as maiores reservas de petróleo da atualidade. A empresa que chegou a ser a quarta maior do mundo em valor de mercado, agora está sendo desmontada e vendida pelo governo Jair Bolsonaro. Os especialistas consideram a privatização da empresa, o maior patrimônio do povo brasileiro, crime de lesa-pátria

 

Contribuição dos petroleiros

Nessa luta pela autossuficiência, é bom destacar o empenho dos petroleiros em superar os desafios impostos à exploração do produto, a partir da década de 40. Quando o Candeias 1 foi descoberto, a região de Candeias estava coberta de mato alto e de extensas áreas de mangue.

A sonda de perfuração era transportada em carros de boi e, com muita dificuldade, os trabalhadores abriam a mata à facão para chegar ao local onde as sondas seriam instaladas.

Mas, não era só isso, o desafio das primeiras gerações de trabalhadores estendeu-se para muito além de dominar os recursos relacionados à descoberta do petróleo. Era necessário também superar a existência de obstáculos à importação de equipamentos necessários à exploração de petróleo no país.

Ao longo dos anos, a carência de mão de obra foi superada e a dedicação do corpo técnico da empresa ajudou a tornar a Petrobrás uma grande empresa integrada de energia, contribuindo para o desenvolvimento econômico, comercial, industrial e social do Brasil. Uma empresa que atua do poço ao posto-poste, produzindo combustíveis e derivados, fertilizante, biodiesel e até energia.

 


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