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As mulheres petroleiras continuam enfrentando muitas dificuldades no ambiente de trabalho, devido à presença majoritariamente masculina. Em 2020, as mulheres no Sistema Petrobrás representavam 16,6% do total de trabalhadores da empresa. Hoje são 8.161 mulheres na estatal, mas este número já foi maior, chegando a 14.536 (17,1%), em 2012. A participação feminina ainda está muito distante de ser igualitária. A maior parte exerce cargos de assistente (45%) e gerente-executivo (31%).

Para Rosangela Buzanelli, reeleita representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, enfatiza as dificuldades das mulheres no dia a dia. “Ser mulher em uma sociedade cultural e estruturalmente machista não é uma tarefa fácil. No Conselho de Administração da Petrobrás, na atual conjuntura, ser representante dos trabalhadores já é uma tarefa árdua, sendo mulher é exponencialmente mais difícil”.

As trabalhadoras reconhecem que houve uma piora drástica nas condições de trabalho ao longo dos últimos anos e um quadro de adoecimento mental generalizado, agravado na pandemia da Covid-19. Em estados como a Bahia, a situação ficou ainda pior com a saída da empresa do estado e a transferência dos empregados e empregadas. Segundo o Observatório Social da Petrobrás, já foram vendidos o equivalente a R$ 239,9 bilhões em ativos, incluindo a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), atual Refinaria Mataripe, localizada em São Francisco do Conde.

Como a indústria petrolífera é um setor prioritário, as mulheres petroleiras devem atuar na linha de frente, seja em alto mar ou em terra, produzindo os combustíveis que abastecem os veículos, as casas dos brasileiros, toda a cadeia de transportes e de petroquímica, que movimenta o país. 

A situação ficou ainda mais complexa, principalmente, em função das pressões psicológicas e da pouca efetividade dos protocolos de saúde e proteção a vida, que não têm se mostrado suficientes para evitar o contágio de Covid-19 dentro da estatal, o que aumenta o medo constante das trabalhadoras em levar o vírus para casa.

Depois com o retorno ao trabalho presencial, a preocupação entre as mulheres que têm filhos pequenos e/ou moram com idosos aumentou. Em Salvador, a AEPET-BA vem denunciando as situações de risco de contaminação no coworking, localizado no Edifício Suarez Trade, espaço alugado pela Petrobrás para colocar os trabalhadores e trabalhadoras próprios e terceirizados que eram lotados no Torre Pituba. O prédio administrativo foi hibernado pela empresa. 

Apesar de ter aumentado a sobrecarga de trabalho, a reivindicação das empregadas do administrativo é para continuar no teletrabalho.

A preocupação das mulheres, que moram em Salvador e tiveram a excepcionalidade cessada, sendo liberadas para deslocamento a outros estados (a qualquer momento), é com os filhos em idade escolar. 

Com o retorno ao trabalho presencial e a chance de serem forçadas a ir para um outro estado, essas crianças terão de se adaptar ao ensino em outra região. Não seria melhor e mais inteligente a Petrobrás garantir que as trabalhadoras fiquem em Salvador, seja em regime de teletrabalho ou em coworking até que os filhos terminem o ano letivo na capital baiana?

Mesmo que isso represente mais sobrecarga de trabalho, com o acúmulo de tarefas da tripla jornada e as responsabilidades com filhos em idade escolar. Seja em casa, seja nas questões trabalhistas, é fato que as mulheres estão com a saúde física e emocional abaladas devido à pressão e insegurança. Principalmente, causado pelas privatizações e fechamento de unidades.

Sobrecarga de trabalho

Não tem sido fácil para as petroleiras lidar com essa sobrecarga de trabalho, acrescida das atividades diárias de cuidado com os filhos na pandemia. Isso tem levado a um maior desgaste físico e emocional, na rotina diária. São muitas incertezas e as mulheres precisam se adaptar às novas rotinas que o trabalho exige.

Na Bahia, a pressão e falta de informação dos gerentes durante o processo de hibernação do Torre Pituba, prédio administrativo localizado no bairro de Itaigara, em Salvador, em 2019, levou os trabalhadores a denunciar a Petrobrás ao Ministério Público do Trabalho (MPT-BA). A empresa foi condenada a pagar indenização por prática de assédio moral organizacional e teve de assinar um Acordo Judicial, que vem descumprindo frequentemente.

Uma cláusula no Acordo beneficiou cerca de 300 trabalhadores do administrativo para continuar na Bahia. Os casos de situação de excepcionalidade aprovados pela equipe multidisciplinar da Petrobrás ofereceu um alívio temporário para muitas mulheres, impedidas de se deslocar para outros estados, por problemas de saúde ou familiar.

Infelizmente, a Petrobrás, apesar das denúncias da AEPET-BA, não vem respeitando o Acordo, liberando as empregadas na excepcionalidade para trabalhar em outros estados. Essa incerteza abala, ainda mais, a saúde mental dessas mulheres. Por isso, a entidade vem procurando alternativas de acolhimento e de assistência jurídica, para barrar as transferências. Uma delas é a parceria com técnicos da Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador (DIVAST)/ Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (CESAT), que oferece orientação na área de saúde.  

Desigualdades salariais

As mulheres petroleiras também ganham menos. Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), mostra que as mulheres petroleiras recebem menores salários. O Relatório revela que as mulheres, em todas as funções exercidas na Petrobrás, recebem menos do que os homens. Nos cargos de nível médio exercendo a mesma atividade, elas ganham, em média, 76% de uma remuneração masculina. Quando se trata de nível superior, o salário da mulher é cerca de 91% da remuneração dos homens.

Além da questão salarial, as mulheres petroleiras sofrem outros tipos de dificuldades na rotina de trabalho, por causa do machismo estrutural na sociedade, que também se reflete nos espaços profissionais. Quando o recorte é racial, a situação é pior para as empregadas negras. 

As mulheres petroleiras novamente estão desafiadas a manter a luta e a esperança de dias melhores em uma sociedade sem machismo, sem sexismo e sem misoginia.

Neste 8 de Março, a AEPET-BA entende que a luta por direitos iguais entre homens e mulheres é de todas as pessoas que acreditam em uma sociedade verdadeiramente democrática. Estamos convocados a participar igualmente dessa luta, assumindo uma posição de vanguarda e reconhecendo o protagonismo das mulheres. E lembramos que é sempre importante continuar resistindo e lutando pela permanência da Petrobrás na Bahia. 

 


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