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A Petrobrás já foi a maior produtora de fertilizantes nitrogenados no Brasil, mas a privatização da estatal impacta diretamente na alimentação do brasileiro, onde o país é altamente dependente das importações dos fertilizantes russos

Geograficamente, o Brasil está longe do continente europeu, onde acontece a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas economicamente esses países estão bastante ligados. Por exemplo, nos primeiros dias de embate, os brasileiros já passaram a sentir os efeitos negativos da guerra, pois o Brasil importa muitos produtos russos e ucranianos. Neste caso em especial, iremos falar sobre os fertilizantes, que influencia diretamente na produção agrícola brasileira e na alimentação da nossa população.

Muitos fertilizantes têm origem russa. A Rússia responde por 30% das importações brasileiras de fertilizantes. Isso está refletindo no preço e na disponibilidade desses produtos. Em 2021, o Brasil comprou 41,6 milhões de toneladas desse insumo (de outros países), dos quais a Rússia foi o principal fornecedor, com 22,3% desse volume (9,3 milhões de toneladas), seguido por China (15,2%, ou 6,3 milhões de toneladas) e Canadá (10%, ou 4,2 milhões de toneladas).

Cinco estados brasileiros são responsáveis por 68% das importações de fertilizantes: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Sendo que paulistas (35,9%) e mineiros (33,1%) respondem por grande parte desse total de importações, ou seja, uma maior dependência deste produto. A Rússia produz quantias enormes de nutrientes, como potássio e fosfato, que são ingredientes essenciais para os fertilizantes, utilizados para melhorar a produtividade das plantações.

Esses dados foram obtidos a partir de um estudo do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), vinculado à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), através de dados levantados pela Esalq-Log (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da USP).

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo (atrás de China, Índia e Estados Unidos) e o maior importador mundial desses insumos. A soja é a principal cultura consumidora de fertilizantes no país. Segundo a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, somada com o milho, a cana-de-açúcar e o algodão, essas quatro culturas absorvem mais de 90% do fertilizante produzido ou importado pelo Brasil.

Em entrevista à revista Exame, o presidente da Embrapa, Celso Moretti, apontou alguns motivos para que o Brasil seja tão dependente dessas importações de fertilizantes.

“Tem uma série de razões. O Brasil fez a opção, e acho que isso já tem mais de quatro décadas, de canalizar o investimento do país para outras áreas que não a priorização de produção de fertilizantes. Temos a Petrobrás, uma das maiores empresas de gás e óleo do mundo, mas há alguns anos a Petrobrás não vem investindo na área de produção de adubos nitrogenados. E há questões naturais. O Brasil, em função do solo, da questão mineral, não tem grandes jazidas de fósforo e potássio”, afirma Celso.

Desmonte da Petrobrás agrava situação do Brasil

A fala de Celso Moretti faz todo sentido, pois a Petrobrás já foi a maior produtora de fertilizantes nitrogenados no Brasil. A estatal possuía três unidades de fertilizantes nitrogenados no Paraná, Sergipe e Bahia, além disso, planejava investir em novas unidades no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Mas o projeto de destruição da Petrobrás fez com que a gente chegasse nessa situação, mesmo com o Brasil sendo um grande produtor de alimentos.

Confira abaixo um breve resumo feito pelo Sindipetro-RJ sobre todo o processo de desmonte da Petrobrás orquestrado e agravado pelo desgoverno Bolsonaro.

Seguindo a prática de destruição do parque industrial brasileiro, a hierarquia privatista na Petrobrás foi impondo o seu Plano de Desinvestimentos na estatal.

Em 2020:

  •         Arrendou as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafens) na Bahia e no Sergipe, que juntas produziam 20% de ureia, um dos principais insumos para a pecuária, alegando que havia prejuízos. No Sergipe, o escândalo da gestão lesiva na Petrobrás veio à tona com o arrendamento da Fafen pela Proquigel Química S.A. após dois anos de hibernação quando o ex-gerente geral da Fábrica, onde trabalhou por 15 anos, Eduardo Barreto assumiu o cargo de consultor da Proquigel.

 Em entrevista ao vivo na Rádio Nova Brasil FM de Sergipe, ele afirmou, em maio de 2020, que a fábrica só precisava da manutenção preventiva que não tinha sido feita durante a hibernação e que a saída de um setor altamente promissor ocorreu somente por motivo de decisão dos gestores na Petrobrás (Ouça e saiba mais: https://sindipetro.org.br/fafen-se-tem-previsao-de-retorno-de-operacoes-ate-o-final-do-ano/ );

 

  • Fechou a Araucária Nitrogenados (ANSA), que produzia o ARLA-32, componente obrigatório na frota diesel brasileira que reduz a emissão de poluentes transformando os tóxicos óxidos de nitrogênio em materiais não-nocivos;
  • Vendeu a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), em Três Lagoas (MS), com obras paradas desde 2014, mas com 80% do projeto concluído, para o grupo Acron, que é russo!

É importante frisar que este processo de desmonte afeta os trabalhadores próprios da Petrobrás e terceirizados que neste processo juntam-se aos desempregados ou são transferidos de suas cidades, sofrendo com suas famílias. A saída da Petrobrás de um setor em crescimento, tanto de demanda quanto de preços, como o de fertilizantes, demonstra muito do caráter lesivo ao país da atual política de privatizações imposta por Bolsonaro.

Os preços dos alimentos dispararam no país, afetando em cheio a mesa do povo brasileiro que não tem mais como adquirir alimentos tão necessários como arroz, feijão, fubá e farinha de mandioca e passa fome. Portanto, muito mais do que rejeitar a privatização é lutar por uma Petrobrás para o povo brasileiro! Uma Petrobrás indutora do desenvolvimento, que gere empregos, que reduza a dependência internacional e produtora de fertilizantes para a agricultura. 

 


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