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Estima-se que entre cinco e sete mil litros de óleo, da empresa Imetame Energia, foram derramados na Lagoa Parda. Estados da Bahia e Ceará registram manchas nas praias

Mais um ataque ao meio ambiente em nosso país. De acordo com o Sindipetro-ES (Espírito Santo), a empresa Imetame Energia, localizada no Norte do estado capixaba, assumiu o vazamento de óleo na Base Lagoa Parda. O oleoduto da empresa causou o vazamento em estrada que liga as regiões de Areal e Regência, em Linhares, próximo à Reserva de Comboios. Estima-se que entre cinco e sete mil litros de óleo foram derramados na Lagoa Parda, e moradores das comunidades temem que esse material se espalhe, até chegar ao mar.

A região já foi duramente atingida pela tragédia causada pela Vale, na Bacia do Rio Doce, em 2015. A lama de rejeitos de minério que saiu da barragem de Fundão chegou ao mar de Regência. Ainda é difícil mensurar o tamanho da agressão provocada pelo vazamento da Imetame, mas o padrão que se repete escancara a precarização gerada pela privatização. Mas sabemos que esses riscos não serão resolvidos enquanto o pensamento empresarial do “lucro acima de tudo e de todos” seja o principal.

No local existem várias lagoas, e as chuvas constantes fazem com que o óleo migre de forma mais rápida. Além de ficar na foz do Rio Doce, o Polo Lagoa Parda é próximo a uma base do Projeto Tamar, reconhecido internacionalmente pelo trabalho de proteção e conservação de tartarugas marinhas no Brasil. A base de Regência é uma das pioneiras do projeto, e foi instalada em 1982.

No rastro do desmonte do Sistema Petrobrás, a gestão da empresa anunciou em setembro de 2021 o fim da parceria de mais 40 anos com a Fundação Pró-Tamar, que cuida do projeto.

Cenário desolador e perigo a vista

O grupo do Sindipetro-ES visitou a região nesta quarta-feira (16) e o panorama que visualizou não foi dos melhores. O diretor do sindicato, Valnisio Hoffmann, afirmou: “Acidentes podem acontecer, mas o amadorismo que a gente viu hoje é assustador. Os funcionários estavam tentando tirar óleo com galho de árvore, não teve contenção. Contrataram uma empresa privada que não tem experiência em contenção de óleo. Esse é o retrato dos efeitos das privatizações: precariedade e ineficiência”.

Os campos terrestres de Lagoa Parda foram vendidos pela Petrobrás em 2020, no marco da estratégia de desinvestimento e venda de ativos aplicada pela gestão da estatal após o golpe de 2016. Segundo divulgação da empresa na época, essa venda estava alinhada com a estratégia de concentrar cada vez mais os recursos em “ativos de classe mundial em águas profundas e ultraprofundas”.

Mesmo assim, o Governo do Espírito Santo, do governador Renato Casagrande (PSB), atendeu às recomendações apresentadas pelo Sistema Findes e deu o aval para a privatização dessas áreas, inclusive emprestando 80% do valor utilizado pela Imetame para comprar os ativos da Petrobrás.

O sindicato alerta para os impactos deste desmonte: “É um perigo não apenas por desconsiderar direitos sociais e ambientais, como tem sido feito durante todo o processo de desmonte e privatização da Petrobrás, mas porque essa privataria atende a uma onda de empresas que não possuem qualquer experiência com a operação petrolífera. São empresas que não estão preparadas, muito menos equipadas para resolver problemas como esse”.

Hoffmann destaca outro ponto muito grave: a iminente privatização do Terminal Norte Capixaba, cujo processo de venda está nas fases finais. O Terminal recebe petróleo dos campos terrestres do norte do ES e escoa a produção através de navios atracados em monobóias e, à vista dos novos fatos, o sindicato alerta para riscos ainda maiores aos já acontecidos caso a venda se concretize.

Manchas de óleo podem ter chegado aos estados da Bahia e Ceará

A Baía de Todos os Santos e seus moradores voltaram a viver dias de preocupação parecidos com os de 2019, ano em que manchas de óleo causaram um desastre ecológico ao atingirem mais de mil locais no Nordeste. No último domingo (13), na área litorânea de Coqueiro Verde, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, novos vestígios de óleo apareceram em diversos pontos do local e da Ilha de Maré.

Um material que, de acordo com Francisco Kelmo, biólogo e diretor do instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ainda não tem origem definida. Ainda segundo o diretor, apesar de causar preocupação, o óleo encontrado está em um volume ‘muito inferior’ ao que foi encontrado há três anos.

“Comparada com 2019, é uma quantidade pequena. Viemos de uma catástrofe que atingiu quase todo litoral do nordeste e temos, agora, manchas isoladas dentro de duas ilhas na Baía de Todos os Santos. Não existe necessidade de alarmar a população”, indica Kelmo.

Ainda sem ter a resposta, os moradores de Ilha de Maré preocupam-se com a possibilidade de contaminação do mar, de onde boa parte dos cidadãos tiram seu sustento com pesca e mariscaria, por exemplo. Josemar de Jesus, 40 anos, mora na ilha e é pescador. Um dos primeiros a ver as manchas, ele tem perdido o sono pensando se o novo vazamento vai prejudicar seu trabalho.

“Quando isso acontece, contamina o peixe e ninguém consegue negociar. Temos que pescar para comer, mas também vender. Sem isso, não dá para pagar as outras contas. A gente tira do mar o sustento”, diz em entrevista ao jornal Correio.

Apesar de novo, pastoso e exalar cheiro de combustível, o óleo de 2022 se assemelha ao encontrado em 2019 em um quesito: é tóxico. Isso é o que garante o diretor Francisco Kelmo ao falar sobre as características já observadas através de imagens.

“É um material tóxico, especialmente, por estar em uma forma próxima da natural. Ele continua com elementos voláteis. E pode causar problemas se inalado e também em contato com a pele”, afirma.

No estado do Ceará, as manchas já atingiram 60 praias em mais de 10 municípios diferentes, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). O problema começou no começo de janeiro e uma análise da Marinha indica que todo o óleo espalhado nas praias tem uma mesma fonte, apesar desta ser ainda desconhecida pelos investigadores.

O Sindipetro/ES e a AEPET-BA seguirão acompanhando de perto todo o processo de contenção do vazamento de óleo, assim como as etapas de investigação.

Queremos saber o real motivo para que esse crime ambiental tenha ocorrido em Linhares, assim como cobraremos da empresa uma postura mais preventiva nas operações realizadas na região, respeitando os direitos ambientais e, também, dos trabalhadores. A sociedade e a natureza não podem ser punidos!


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