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Neste artigo, divulgado pelo Sindipetro de São José dos Campos, o economista do Instituto Brasileiro de Estudos Pesquisas e Desenvolvimento Social e doutor em Ciência Política, Eric Gil, mostra a evolução do preço do gás de cozinha. “Em janeiro de 2003 a proporção preço do GLP em relação a um salário-mínimo da época chegou a 14,7%. De lá para cá esta proporção veio caindo, chegando ao patamar mínimo de 5,7% em janeiro de 2015. Isto é, em janeiro de 2015, se gastava 5,7% de um salário para comprar um botijão de gás. No entanto, desde então, esta proporção voltou a aumentar, atingindo 8,5% do salário-mínimo, e já temos um valor equivalente ao de fevereiro de 2008. Regredimos 13 anos no que diz respeito a este item que representa dignidade para as famílias. O efeito disto será obviamente a migração cada vez maior para outras formas de cocção”, afirma o economista

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Artigo por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e doutor em Ciência Política

É comum vermos em jornais defensores da atual política de preços da direção da Petrobrás e do governo Bolsonaro, que o preço do gás de cozinha (o GLP) não é um problema, pois se compararmos a algum ano no meio da década de 2000, a coisa era pior. No próprio site da Petrobrás, em “Verdades sobre os preços do gás de cozinha (GLP)”[1], a empresa diz que “Em 2007, o preço ao consumidor do botijão de 13 quilos chegou a representar 8,7% do salário-mínimo”, minimizando o botijão caríssimo.

É verdade que no início do século o que se comprava de GLP com um salário-mínimo era muito menos, até porque a defasagem do salário-mínimo era imensa. Como pode ser visto no Gráfico 1, em janeiro de 2003 a proporção preço do GLP em relação a um salário-mínimo da época chegou a 14,7%. De lá para cá esta proporção veio caindo, chegando ao patamar mínimo de 5,7% em janeiro de 2015. Isto é, em janeiro de 2015, se gastava 5,7% de um salário para comprar um botijão de gás.

Gráfico 1 – Proporção do preço de um botijão de gás de 13kg em relação ao total de um salário-mínimo (julho de 2001 a agosto de 2021)

Fonte: ANP [Elaboração própria]

No entanto, desde então, esta proporção voltou a aumentar, atingindo 8,5% do salário-mínimo, e já temos um valor equivalente ao de fevereiro de 2008. Regredimos 13 anos no que diz respeito a este item que representa dignidade para as famílias. O efeito disto será obviamente a migração cada vez maior para outras formas de cocção, tal como já tratamos no artigo “Preço recorde do GLP fará milhões de brasileiros voltarem para o fogão a lenha”[2].

Este fenômeno também vem ocorrendo com a gasolina, como pode ser visto no Gráfico 2. Aqui optamos por colocar o total de um tanque de 55 litros, ao invés de um litro, para melhorar a visualização – mas isto não altera em nada o resultado. Se no início da década de 2000 se gastava 184% de um salário-mínimo para encher um tanque de 55 litros, hoje esta proporção é de 29,9%. A tendência de diminuição já tinha se revertido em meados de 2017, quando atingiu a proporção de 25,3%. No entanto, em 2020, por conta da pandemia houve uma diminuição considerável do preço da gasolina (o que não ocorreu no GLP, por conta da alta demanda nas residências devido ao maior isolamento social), chegando a uma proporção de 22,4% em maio de 2020. No entanto, com a recuperação do preço da gasolina, hoje, a proporção de 29,9% se iguala à do final de 2018, quando chegou a 30,8%, em novembro, e 29,3%, em dezembro. Ou seja, a tendência de caber mais litros de gasolina no salário-mínimo também foi revertida, tal qual o GLP.

Gráfico 2 – Proporção do preço de um tanque de 55 litro de gasolina comum em relação ao total de um salário-mínimo (julho de 2001 a agosto de 2021)

Fonte: ANP [Elaboração própria]

Se a previsão da Associação Brasileira dos Revendedores de Gás Liquefeito do Petróleo (Asmirg) se concretizar e atingirmos preços entre R$ 150 e R$ 200, esta proporção voltará aos maiores patamares do século. Com a previsão de um salário-mínimo de R$ 1.169 para 2022 e um valor médio do GLP de R$ 150, teríamos uma proporção de 12,8%, só inferior aos picos de julho de 2002 e do final de 2002 e início de 2003. A mesma coisa para a gasolina.

A imensa inflação sufoca os brasileiros, o IPCA-15 para agosto foi o maior desde 2002. A direção da Petrobrás é hoje – junto aos alimentos e a energia elétrica – a principal responsável pelo aumento dos preços.

Ainda temos tempo de reverter este cenário, cobrando um preço justo para a população brasileira, que sofre com uma grande crise econômica e sanitária. E para cobrar um preço justo, temos que interromper e reverter o processo de privatizações que já levou mais de R$ 200 bilhões de ativos da nossa estatal. Só com uma empresa estatal integrada e verticalizada será possível acabar com os preços abusivos para os combustíveis e gás de cozinha no país.

 

[1] https://petrobras.com.br/en_us/fatos-e-dados/verdades-sobre-os-precos-do-gas-de-cozinha-glp.htm

[2] https://www.sindipetrosjc.org.br/p/2309/preco-recorde-do-glp-fara-milhoes-de-brasileiros-voltarem-para-o-fogao-a-lenha

 


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