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Em silêncio devido à pandemia, nossa cidade, São Salvador da Bahia, completa 472 anos de fundação, hoje (29/03). O silêncio é por conta do isolamento decretado pela Prefeitura devido ao aumento assustador do número de casos de pessoas infectadas pela Covid-19. Salvador registra quase cinco mil mortos e 171 mil infectados desde que começou a pandemia. Muitas famílias estão enlutadas e choram seus entes queridos vítimas do coronavírus, não só em Salvador, como em todo o Brasil. Por isso, não há nada a comemorar nesta data.

A AEPET-BA manifesta solidariedade e respeito a todas essas famílias soteropolitanas e brasileiras.

É nesse cenário sombrio que Salvador faz aniversário hoje. Nos orgulhamos de fazer parte desta história que começou na Baía de Todos os Santos no século XVI. A baía abrigou o maior porto do Hemisfério Sul, onde eram comercializados diversos produtos e no século seguinte se tornou um dos maiores portos de escravistas do mundo.

Aos seus pés nasceu Salvador, a primeira capital do Brasil, com a chegada em 29 de março de 1549 de Tomé de Souza, primeiro Governador-Geral, a mando do Rei D. João III. Pela sua localização estratégica, os planos da coroa portuguesa para a cidade foram expandir a exploração econômica nas Américas pelo porto de Salvador. E assim permaneceu até 1763, quando a capital foi transferida para o Rio de Janeiro.

A produção da cana de açúcar foi determinante para que o comércio de africanos escravizados, provenientes do Golfo do Benin, os iorubás vindos do Sudão e Nigéria e os bantos de Angola, Moçambique e Congo se desenvolvessem em Salvador. Estima-se que 4,5 milhões de africanos foram escravizados para trabalharem nas lavouras de cana-de açúcar e nas minas de metais preciosos como o ouro e o diamante no Brasil.

Salvador tornou-se, assim, a cidade mais negra fora do continente africano com 80% de sua população de afrodescendentes.

Com a chegada dos jesuítas Manuel da Nóbrega e o padre José de Anchieta, Salvador se constituiu na primeira diocese nas Américas, em 1551. Hoje, a cidade possui 365 igrejas e  forte sincretismo  religioso, denominado Candomblé. Foi por meio do sincretismo que os negros escravizados, por não lhes serem permitidos os cultos, mantinham a tradição das divindades africanas. A cidade também é considerada o centro da cultura afro-brasileira e é por meio das manifestações culturais que a população negra marca resistência contra o racismo estrutural e o preconceito.

Foi em Salvador que em 21 de janeiro de 1939, foi descoberto o primeiro poço de petróleo, no bairro do Lobato, havendo grande comoção popular na cidade. A descoberta de Lobato, de certa maneira, somado aos demais acontecimentos no mapeamento e novas descobertas do Recôncavo e nas demais áreas da indústria do petróleo, marcou uma espécie de ponto inicial, no longo trajeto da autossuficiência.

 

Cultura cosmopolita

Salvador é marcado pelo convívio entre classes, etnias e costumes diferentes e divergentes entre si, favorecendo os movimentos de resistência, pois o fato de haver pessoas excluídas da sociedade não as exclui da história real da cidade. Esse processo histórico-cultural permitiu ao povo soteropolitano gerir sua própria diversidade e reproduzir um tipo de cultura cosmopolita, com diz o professor Ubiratan Castro.

Uma cidade com grandes nomes na literatura, na música, no cinema, na educação, na política, no Direito e na Medicina. Por citar alguns: Castro Alves, Jorge Amado, Milton Santos, Gilberto Gil, Mãe Menininha do Gantois, Ruy Barbosa, Mãe Stella de Oxóssi, Daniela Mercury, Raul Seixas, Carlinhos Brown, entre muitos outros. E daqui é a primeira santa brasileira, Irmã Dulce, canonizada pela Igreja Católica com o título de Santa Dulce dos Pobres.

Em 472 anos, Salvador ainda não conseguiu superar os graves problemas econômicos e sociais e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é comparado aos das cidades de um país que vive em extrema pobreza.

Nesta terra de contrastes, de cultura diversificada; de belas praias; de prédios modernos da Avenida Tancredo Neves que contrastam com os casarões do Pelourinho, centro histórico de Salvador e Patrimônio Histórico da Humanidade; do Elevador Lacerda que divide a cidade entre alta e baixa; o povo ainda resiste às desigualdades sociais e econômicas agravadas pela pandemia.

A AEPET-BA, nestes 472 anos de Salvador, está ao lado dos trabalhadores, do povo e nos orgulhamos de fazer parte desta luta de resistência dos soteropolitanos por ter uma cidade mais justa, igualitária e antirracista.


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