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Na sexta-feira, 05 de setembro, às 14h30, no auditório da Igreja da Vitória, em Salvador, o Sindiquímica Bahia realiza a cerimônia comemorativa dos 40 anos da histórica greve dos trabalhadores do Polo Petroquímico de Camaçari. Vão participar da solenidade, a presidente da Comissão de Anistia, Ana Maria Lima de Oliveira; Diva Santana do Grupo Tortura Nunca Mais, além de sindicalistas, parlamentares, autoridades, os ex-diretores do Sindiquímica-BA:  ministro da Casa Civil, Rui Costa e o senador Jaques Wagner.

O movimento grevista, deflagrado em 27 de agosto de 1985, entrou para a história do sindicalismo brasileiro como uma das maiores e mais emblemáticas mobilizações da classe trabalhadora no processo de redemocratização do país.

A greve que parou o Polo de Camaçari

Pela primeira vez no mundo, um complexo industrial do porte do Polo Petroquímico de Camaçari paralisou totalmente suas atividades de maneira programada e articulada. Mais do que reivindicações econômicas, os trabalhadores liderados pelo Sindiquímica deram um recado político: a categoria não aceitava mais a repressão herdada da ditadura militar.

O movimento foi duramente reprimido. Centenas de dirigentes e ativistas foram demitidos e tiveram seus nomes registrados em listas sujas, ficando impedidos de trabalhar não apenas no Polo, mas em várias empresas do setor. Muitos perderam tudo: emprego, sustento, dignidade. Alguns companheiros, marcados pelo trauma e pela perseguição, nunca conseguiram se recuperar totalmente.

A longa luta pela anistia

Mesmo diante das adversidades, os petroquímicos não desistiram. Criaram a Comissão de Anistiantes do Sindiquímica, que manteve por anos a chama da luta acesa. Foram inúmeros encontros, recursos e mobilizações até que, em 2008, a Caravana da Anistia chegou a Salvador para julgar os primeiros processos dos demitidos.

Em 2012, em Camaçari, mais de uma centena de casos foram reconhecidos, garantindo aos trabalhadores o direito de serem declarados anistiados políticos, com reparações econômicas e trabalhistas. O processo de justiça tardou, mas se consolidou como um marco de resistência e dignidade.

A relação histórica com a Refinaria Landulpho Alves

A greve de 1985 não pode ser compreendida sem um olhar para a trajetória da indústria do petróleo na Bahia. A Refinaria Landulpho Alves (RLAM), inaugurada em 1950, foi o embrião que formou a mão de obra especializada e politicamente ativa que impulsionou a criação do Polo Petroquímico de Camaçari.

Na década de 1950, com o nascimento da RLAM, surgiram também sindicatos combativos como o Stiep, SINDIPETRO e a ASPETRO, que resistiram mesmo sob a repressão da ditadura militar. Foi essa base de trabalhadores organizados que, duas décadas depois, daria força ao Sindiquímica para liderar a histórica paralisação de 1985.

Assim, a luta dos petroquímicos de Camaçari também se conecta à memória da RLAM, um dos maiores patrimônios industriais do Brasil, hoje entregue à iniciativa privada após a privatização em 2021. Essa história reforça a necessidade de reconstruir a Petrobrás na Bahia, resgatando seu papel estratégico para a soberania nacional.

Memória e solidariedade

Parabéns aos trabalhadores do ramo químico da Bahia e ao Sindiquímica-Bahia pela luta e pelo resgate desses 40 anos de combatividade.

Que os 40 anos da greve dos petroquímicos de Camaçari sejam lembrados não apenas como um capítulo de resistência, mas como inspiração para as novas gerações: a única luta que se perde é a que se abandona.


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