No dia 14 de dezembro de 1941, foi descoberto o primeiro campo comercial de petróleo em Candeias, na Bahia, que encerrou qualquer dúvida adicional na busca pela autossuficiência do produto no Brasil. O poço Candeias 1, marcou o início de uma trajetória que moldaria o futuro industrial e econômico do país.
A descoberta de Candeias 1 trouxe consigo a necessidade de estabelecer uma refinaria, e em 1950, nasceu a Refinaria Landulpho Alves, a primeira refinaria de petróleo estatal do Brasil. Com a criação da Petrobrás, em 1953, e a constituição da chamada RPBA (Região de Produção de Petróleo da Bahia) hoje denominada UO-BA (Unidade Operacional da Bahia), outros campos de petróleo e gás passaram a ser explorados no recôncavo baiano. A RLAM foi incorporada à Petrobrás em 1953.
Para dar vazão ao gás produzido nos campos terrestres do Recôncavo baiano foi criada, em 1971, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, a FAFEN (antiga Nitrofértil), localizada no Polo Petroquímico de Camaçari, que no ano de 1993 foi incorporada à Petrobrás.
A partir da Bahia, a produção de petróleo e gás em campos terrestres avançou no Nordeste, sendo fundamental para o desenvolvimento do Polo Petroquímico de Camaçari, o pioneiro complexo industrial da Bahia.
Além de seu papel fundamental na história do petróleo brasileiro, o Poço Candeias 1 guarda curiosidades que o enriquecem. Em 1952, o presidente Getúlio Vargas visitou Candeias, exibindo com orgulho a marca do “ouro negro” em suas mãos. Esse momento não apenas simbolizou o início de uma nova era para o Brasil, mas também deu os primeiros sinais da criação da Petrobrás.
Em um desfile da escola de samba Mangueira, o cantor Padeirinho homenageou a cidade em uma de suas músicas, destacando Candeias como a “cidade petroleira” que trabalhava para o progresso fabril. Essa homenagem não apenas enalteceu a importância econômica de Candeias, mas também destacou a conscientização nacional sobre a relevância do petróleo para o desenvolvimento do país.
A Refinaria Landulpho Alves, erguida nas proximidades do poço, também foi homenageada durante o desfile, reforçando a conexão entre a descoberta do Candeias 1 e o desenvolvimento industrial do Brasil. Essa celebração não apenas enalteceu os marcos históricos, mas também inspirou o reconhecimento da importância da indústria petrolífera na identidade cultural e econômica do país.
Desenvolvimento da economia local
As descobertas de petróleo no Recôncavo baiano impulsionaram a dinamização da economia do estado, até então com base exclusivamente agrária, carente de indústria e de empregos.
A primeira fase durou desde a exploração comercial do poço de Candeias (1941) até 1966, quando a Bahia respondia por quase a totalidade da produção brasileira.
O grande volume de óleo produzido no Recôncavo Baiano era surpreendente. Segundo as metas de produção nacional de óleo da Petrobrás, o volume mínimo a ser produzido deveria chegar a 40 mil barris de petróleo por dia (bpd) no período de 1956 a 1960, ou seja, 21% do consumo e 33% do petróleo refinado no país. Todavia, em fins de 1957, essa meta já havia sido atingida e em 1958 chegou a 75 mil bpd, com a perspectiva de ultrapassar a barreira dos 100 mil bpd em 1960.
O auge da produção nos campos baianos aconteceu em janeiro de 1969, quando a média mensal diária era de cerca de 165 mil barris/dia e a média anual foi de 142.844 barris/dia.
Segundo a Petrobrás, até 1973 o Recôncavo Baiano era responsável por 80% da produção nacional de petróleo, diminuindo progressivamente com as descobertas de grandes jazidas petrolíferas noutras partes do país, em especial, na plataforma continental, com destaque para a Bacia de Campos.
Os desafios da privatização e preservação da história
Com toda essa história, o governo de Jair Bolsonaro vendeu o campo de Candeias e outros 13 campos terrestres de petróleo e gás, localizados na Bahia, em dezembro de 2020 para a empresa Ouro Preto Energia Onshore, subsidiária integral da 3R Petroleum. Os 14 campos foram vendidos por US$ 250 milhões, sendo que todos eles continuam produzindo.
Esses campos estavam localizados nos municípios de Candeias, Salvador, Santo Amaro, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé e Simões Filho. Em vez de revitalizar os campos, na Bahia, o desgoverno Bolsonaro e o então presidente da Petrobrás, Roberto Castelo Branco, hoje presidente da 3R Petroleum, promoveram o maior desmanche de sua história, com graves consequências para a economia regional.
Com baixa renda e baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), esses municípios recebiam os royalties do petróleo com ganhos significativos nos orçamentos locais. Com a saída da Petrobrás, os impactos foram sentidos na perda de massa salarial, na renda desses municípios que foram extremamente reduzidos e também na cadeia do petróleo.
Candeias 1 deve ser devolvido à Petrobrás
Passados 82 anos desde a descoberta do Candeias 1, é fundamental lutar para a preservação da história e dos ativos que foram fundamentais para o desenvolvimento do Brasil. A venda de ativos como o Polo Recôncavo não apenas levanta preocupações sobre a soberania energética, mas também destaca a importância de resistir à desmontagem de uma empresa que, por décadas, foi um símbolo de sucesso construído pelo esforço do povo brasileiro.
A Associação dos Engenheiros da Petrobrás, núcleo Bahia (AEPET-BA), destaca a importância estratégica da volta do poço Candeias 1 e todos os demais ativos vendidos a preço vil para a Petrobrás, defendendo a reestatização como medida vital para o fortalecimento da soberania nacional e o desenvolvimento sustentável do setor petrolífero.
Além disso, a entidade propõe a desapropriação do poço para interesse público da educação. A AEPET-BA propõe transformar o poço Candeias 1 em um museu do petróleo, sob a gestão da Universidade Luso-Brasileira, com a criação simultânea de cursos no Instituto Federal da Bahia (IFBA) destinados a formar mão de obra na área de petróleo, gás e energia.
Considerando que o poço ainda está em operação, a proposta da AEPET-BA sugere a possibilidade de estabelecer uma parceria com a Universidade Petrobrás, permitindo que a operação do poço seja conduzida pela própria Petrobrás, garantindo a continuidade das atividades enquanto promove o desenvolvimento educacional e tecnológico no setor.
Ao lembrar os desafios superados pelos primeiros trabalhadores e celebrar os 82 anos do Poço Candeias 1, reafirmamos o orgulho nacional e a necessidade contínua de defender o patrimônio público e a soberania energética do Brasil. Que o legado do C-1 inspire futuras gerações a lutar pela preservação e fortalecimento da indústria do petróleo no país.
Programação 80 anos
Em 2021, quando o Candeias 1 completou 80 anos, o Fórum Baiano em Defesa da Petrobrás, Petros e AMS programou várias atividades. No dia 14/12/2021, foi realizado um ato de protesto próximo ao portão principal do OP-CAN, na entrada de São Francisco do Conde. O protesto contra a venda do Candeias 1 deverá reunir, além das entidades do Fórum, sindicatos, centrais sindicais, parlamentares e movimentos sociais.
Na manhã do dia 15/12/2021, foi realizada uma Audiência Pública com o tema “80 anos de exploração de petróleo no Brasil – do Candeias 1 ao pré-sal e política de preços dos combustíveis”, na Assembleia Legislativa da Bahia.
Lembre como foi o ato de protesto em Candeias