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Julho de 1983. Em plena ditadura militar, quando a repressão calava vozes e criminalizava a organização dos trabalhadores, os petroleiros da Bahia desafiaram o regime e fizeram história. Em unidade com os companheiros de São Paulo, protagonizaram uma das primeiras greves políticas do país sob o regime militar.

A paralisação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em Mataripe, e da Refinaria de Paulínia (REPLAN), em São Paulo, entrou para a história como um marco da resistência operária no Brasil — e o estopim para a primeira greve geral da ditadura, que viria dias depois, em 21 de julho.

Passados 42 anos, a AEPET-BA relembra esse momento fundamental da trajetória petroleira e reafirma que a luta segue viva. A greve de 1983 foi mais do que uma reivindicação por direitos trabalhistas: foi um ato corajoso contra o autoritarismo, o arrocho salarial, o entreguismo econômico e o acordo lesivo com o FMI. Foi também a semente que germinou na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em agosto daquele mesmo ano.

Na Bahia, o levante começou no dia 7 de julho, quando os petroleiros da RLAM cruzaram os braços, exigindo respeito e justiça. A resposta do regime veio com repressão pesada: 198 trabalhadores foram demitidos em Mataripe, 153 em Paulínia, além da intervenção nos sindicatos e ocupação militar da refinaria baiana. Mas nem mesmo a força bruta conseguiu apagar o espírito de luta daqueles que ousaram sonhar com um Brasil democrático, com direitos garantidos e uma Petrobrás pública, a serviço da nação.

A união da categoria se manifestou, mais uma vez, em busca da reintegração dos demitidos. Grande parte dos trabalhadores retornou à Petrobrás e recebeu a anistia com reparação, outros 41, embora anistiados, ainda aguardam decisão para receberem a reparação econômica do governo. Entre eles, o então presidente do Sindipetro-BA, Germino Borges dos Anjos.

RLAM: Ontem resistência, hoje símbolo de uma luta que continua

Quatro décadas depois, a Refinaria Landulpho Alves novamente se tornou símbolo de um embate crucial: a luta contra a privatização e pela reintegração da RLAM ao sistema Petrobrás. A refinaria, vendida em 2021 ao fundo árabe Mubadala, foi arrancada do povo baiano sem qualquer debate público.

Desde então, a Bahia amarga as consequências: preços mais altos nos combustíveis e no gás de cozinha, perda de arrecadação estadual e destruição de empregos de qualidade.

Assim como em 1983, hoje é preciso coragem e unidade para enfrentar os interesses que precarizam a soberania nacional. A AEPET-BA entende que reconstruir a Petrobrás na Bahia é reconstruir o Brasil. E isso passa pela retomada da RLAM, do campo de Candeias 1, da reabertura do posto da Petros, da volta da Cofip e da Universidade Petrobrás à Bahia. Nada menos do que isso fará justiça à memória de quem lutou ontem e aos que resistem hoje.

Vozes que marcaram a história

Quando a greve completou 40 anos, para preservar a memória e honrar os que estiveram à frente da greve de 1983, a AEPET-BA gravou depoimentos históricos com petroleiros que participaram daquele movimento: Germino Borges dos Anjos, então presidente do Sindipetro-BA; o advogado e associado Luiz Henrique Amorim; e o colaborador Nelson Araújo.

Os relatos revelam os bastidores, o clima de tensão, mas sobretudo o espírito de dignidade e resistência que marcou a categoria.

Que essa história inspire as novas gerações

A AEPET-BA presta sua homenagem a todos os petroleiros e petroleiras que participaram da greve de 1983. Que o exemplo de bravura e consciência política daqueles dias inspire a luta atual por uma Petrobrás pública, integrada, e com forte presença no Nordeste.

Relembrar 1983 é também reafirmar que nossa luta não acabou. A Bahia quer de volta o que é seu. Reconstruir a Petrobrás é reconstruir o Brasil. E isso começa por Mataripe.

Assista aqui os depoimentos:

Ex-presidente do Sindipetro-BA, Germino Borges
https://www.youtube.com/watch?v=-UneefF4a4w&t=73s

Aposentado e assessor jurídico da AEPET-BA, Luiz Henrique Amorim

Colaborador da AEPET-BA, Nelson Araújo

Saiba mais: assista o documentário preparado pelo Sindipetro Unificado sobre a greve de 1983


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