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Enquanto a estatal norueguesa comemora o início da produção no pré-sal, o Brasil assiste à exploração de suas riquezas por multinacionais estrangeiras, herança direta das privatizações e do desmonte da Petrobrás.

A entrada em operação do campo de Bacalhau, no pré-sal da Bacia de Santos, marca mais um capítulo triste na história da entrega do patrimônio energético brasileiro. O campo, um dos mais promissores do país, começou a produzir petróleo no dia 15 de outubro sob o comando da multinacional norueguesa Equinor, que investiu US$ 8 bilhões para explorar reservas estimadas em 1 bilhão de barris.

O projeto, que conta ainda com as participações da ExxonMobil e da Petrogal, é operado por uma empresa pública — mas da Noruega, não do Brasil. Para a AEPET-BA, o início da produção de Bacalhau não é motivo de comemoração, e sim de indignação nacional.

Sentimento compartilhado também pela vice-diretora de Comunicação da AEPET, Patrícia Laier, que manifestou seu descontentamento. “A Noruega e demais países que se tornaram donos do campo gigante de Carcará/Bacalhau estão comemorando, o Brasil não. A venda foi a primeira feita por Pedro Parente no governo Temer. A presidenta Dilma nem tinha sido afastada em definitivo. O golpe foi para isso: entregar o pré-sal”, criticou ela.

Patrícia lembra que a área Norte de Carcará foi leiloada e entre a venda e o leilão, a ANP suspendeu prazos. “A Noruega vai poder continuar exportando petróleo. O nosso petróleo”, finalizou.

A denúncia de Patrícia ecoa o sentimento de muitos petroleiros e brasileiros que acompanharam o desmonte da Petrobrás a partir de 2016, quando ativos estratégicos começaram a ser vendidos a preço vil. Bacalhau — que foi descoberto pela Petrobrás em 2012 — é um símbolo dessa entrega, um campo de altíssimo valor que agora gera lucros bilionários para outros países enquanto o Brasil perde capacidade de investimento e de planejamento energético soberano.

O presidente da AEPET-BA, Marcos André, reforça o caráter contraditório dessa situação.

“É a entrega total das nossas riquezas para uma empresa pública estrangeira enquanto aprofundamos as desigualdades. A Noruega é o exemplo mais exitoso de exploração do petróleo para o bem de toda a sociedade. Lá, o petróleo é usado para garantir qualidade de vida, educação e desenvolvimento. Aqui, entregamos o nosso ouro negro e ainda convivemos com fome e pobreza”, afirma.

O contraste entre dois modelos: soberania norueguesa x submissão brasileira

Enquanto a Equinor, estatal norueguesa, celebra a expansão de seus negócios no Brasil e planeja novos projetos como o campo de Raia, o país escandinavo acumula recursos em seu fundo soberano — o maior do mundo, com trilhões de dólares aplicados para garantir o futuro das próximas gerações.

O contraste é gritante: a Noruega enriquece com o petróleo brasileiro, e o Brasil se empobrece com a entrega de suas reservas. Em vez de fortalecer a Petrobrás e o conteúdo nacional, o modelo imposto desde o golpe de 2016 favorece as multinacionais e transforma o Brasil em mero exportador de óleo cru, sem agregar valor, gerar empregos qualificados ou investir em tecnologia nacional.

Reconstruir a Petrobrás é reconstruir o Brasil

Para a AEPET-BA, a retomada da soberania energética é urgente. O petróleo do pré-sal é estratégico não apenas para o abastecimento e a transição energética, mas também para o desenvolvimento social e industrial do país.

A luta dos petroleiros e das entidades como a AEPET é para reconstruir a Petrobrás pública, integrada e nacional, capaz de operar os grandes campos, gerar emprego, renda e conhecimento tecnológico para o Brasil — não para enriquecer nações estrangeiras.

“Enquanto a Noruega investe o lucro do petróleo brasileiro em educação e bem-estar para seu povo, o Brasil se distancia da soberania e da justiça social. É hora de retomar o que é nosso”, conclui Marcos André.


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