Por Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar os cenários geopolíticos plausíveis para o atual conflito entre Estados Unidos e Venezuela. Um cenário geopolítico é a análise do cenário global, considerando as relações de poder entre países e como fatores geográficos, econômicos, culturais e políticos influenciam essas dinâmicas. Ele envolve o estudo de guerras, conflitos, alianças diplomáticas, interesses econômicos e estratégias de nações para obter poder. Um cenário geopolítico envolve:
- Relações internacionais: Estuda a interação entre Estados, incluindo diplomacia, acordos e blocos econômicos.
- Conflitos e tensões: Analisa guerras, conflitos internos (como guerras civis), disputas territoriais e questões de segurança global.
- Fatores geográficos: Avalia o impacto do território, recursos naturais (como petróleo ou água), biomas e infraestrutura no poder de um país.
- Fatores socioeconômicos e culturais: Examina como a economia, a cultura e as questões sociais influenciam as relações de poder e a influência de um país no cenário global.
- Organizações supranacionais: Observa a atuação de organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas) e como elas influenciam os eventos globais.
Na construção desses cenários, é de fundamental importância responder a seguinte questão: qual deve ser a política de Defesa e Segurança em países como a Venezuela ameaçada de intervenção militar pelos Estados Unidos? O conflito entre Estados Unidos e Venezuela se apresenta no momento como uma disputa baseada em sanções econômicas, operações de informação e contrainformação, pressões diplomáticas, apoio indireto a atores regionais anti-Maduro e presença militar dos Estados Unidos no mar do Caribe e no Oceano Pacífico. Este conflito resulta do propósito do governo Trump de se apossar das reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo, da disputa global Estados Unidos–China, onde a Venezuela aparece como peça estratégica, da persistência do modelo político venezuelano, o socialismo bolivariano, e do alinhamento da Venezuela ao eixo Moscou–Teerã–Pequim. É uma espécie de guerra fria localizada na América Latina que pode evoluir para um conflito armado entre Estados Unidos e Venezuela.
São três os cenários futuros para o conflito entre Estados Unidos e Venezuela 1) Bloqueio ou intervenção limitada dos Estados Unidos na Venezuela para pressionar Nicolás Maduro a abandonar o poder; 2) Deposição do Governo Venezuelano por Pressão Interna e Externa Combinada; e, 3) Confronto prolongado entre Estados Unidos e Venezuela com a manutenção da soberania da Venezuela e a permanência do governo Maduro no poder.
Cenário 1: Bloqueio ou intervenção limitada dos Estados Unidos na Venezuela para pressionar Nicolás Maduro a abandonar o poder
Neste cenário, os Estados Unidos adotam uma estratégia militar restrita, não uma invasão militar da Venezuela, com a realização de ataques recorrentes a embarcações de supostos narcotraficantes no mar do Caribe e em regiões do Oceano Pacífico próximas à costa colombiana da América Latina, o bloqueio naval parcial, a apreensão de navios, os ataques cibernéticos e as operações especiais pontuais, com maior presença militar dos Estados Unidos no mar do Caribe (Aruba, Curaçao) e Oceano Pacífico (Colômbia), o fechamento do espaço aéreo venezuelano, as tentativas de desestabilização política interna na Venezuela sem guerra aberta com a possível fragmentação interna do poder venezuelano entre as forças favoráveis ao confronto com os Estados Unidos e os que sejam favoráveis a um acordo com os Estados Unidos e a pressão para Nicolás Maduro abandonar o poder. Isso está ocorrendo com o propósito do governo Trump dos Estados Unidos de se apossar das reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo, atendendo aos interesses energéticos dos Estados Unidos e devido ao alinhamento massivo venezuelano com operações russas/chinesas/iranianas na Venezuela. A ameaça de invasão da Venezuela pela frota naval norte-americana localizada no mar do Caribe já está contribuindo para que o governo venezuelano mobilize suas Forças Armadas e sua população em defesa da soberania nacional e está contribuindo, também, para que haja reação diplomática dura da China e Rússia em apoio à Venezuela.
Cenário 2: Deposição do governo venezuelano por pressão interna e externa combinada
Neste cenário, ocorreriam uma crise econômica extrema na Venezuela devido ao bloqueio econômico e às sanções econômicas dos Estados Unidos contra a Venezuela, rupturas nas Forças Armadas venezuelanas com o confronto entre as forças favoráveis e contrárias a um acordo com os Estados Unidos e pressão internacional coordenada de aliados em apoio aos Estados Unidos que resultariam na queda do governo venezuelano. Esse cenário resultaria da constituição de unidade das forças de oposição da Venezuela contra o governo Maduro, da deserção militar significativa na Venezuela entre as forças favoráveis e contrários ao confronto com os Estados Unidos e do colapso das alianças externas da Venezuela com Rússia, China e Irã, pouco provável no curto prazo. Esta situação contribuiria para que houvesse uma transição política e econômica instável na Venezuela, fortíssima ingerência externa na Venezuela e disputa pelo poder entre facções internas na Venezuela. Isso está ocorrendo com o propósito do governo Trump dos Estados Unidos de se apossar das reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo, atendendo aos interesses energéticos dos Estados Unidos e devido ao alinhamento massivo venezuelano com operações russas/chinesas/iranianas na Venezuela. A ameaça de invasão da Venezuela pela frota naval norte-americana localizada no mar do Caribe já está contribuindo para que o governo venezuelano mobilize suas Forças Armadas e sua população em defesa da soberania nacional e está contribuindo, também, para que haja reação diplomática dura da China e Rússia em apoio à Venezuela.
Cenário 3: Confronto prolongado entre Estados Unidos e Venezuela com a manutenção da soberania da Venezuela e a permanência do governo Maduro no poder
Neste cenário, o governo da Venezuela, que está sendo apoiado pela imensa maioria de sua população em defesa da soberania nacional, seria bem sucedido ao adotar as estratégias militares de dissuasão para fazer entender aos Estados Unidos que seria alto o custo da intervenção militar na Venezuela, haja vista que teria que se defrontar com táticas de guerrilha e terrorismo nas selvas e montanhas do país, com as alianças militares externas da Venezuela com a Rússia (drones, radares, defesa antiaérea, treinamentos militares, cooperação de inteligência e satélites e possível entrega de sistemas antinavio e antiacesso), a China (inteligência cibernética, drones de vigilância e suporte logístico dual-use), o Irã (“suicide drones”, treinamento para guerra assimétrica e cooperação naval) e Cuba (desenvolvimento de inteligência e contrainteligência de alto nível e doutrina de resistência prolongada), teria que se defrontar com os ativos militares venezuelanos como aeronaves, radares e sistemas antiaéreos em múltiplas bases e abrigos fortificados e sistemas móveis. Além dessas estratégias militares, o governo da Venezuela vem adotando estratégias econômicas centradas na resiliência e diversificação de sua economia, nas alianças financeiras internacionais e na neutralização dos efeitos de sanções econômicas dos Estados Unidos sobre a economia nacional. As estratégias militares e econômicas estão sendo reforçadas pela política internacional e diplomática da Venezuela, que defende a autodeterminação de seu povo e assume uma postura anti-imperialista para obter apoio global, ao obter apoio de países descontentes com os Estados Unidos (Rússia, China, Irã, Nicarágua, Cuba), ao explorar divisões internas na política interna dos Estados Unidos (oposição do Congresso a novas guerras) e ao utilizar o direito internacional para questionar bloqueios e ameaça de uso da força pelos Estados Unidos.
Conclusão
Pelo exposto, todos os cenários acima descritos são plausíveis. O Cenário 1 contempla o bloqueio ou intervenção limitada dos Estados Unidos na Venezuela para pressionar Nicolás Maduro a abandonar o poder, o Cenário 2 considera a deposição do governo venezuelano por pressão interna e externa combinada e o Cenário 3 admite o confronto prolongado entre Estados Unidos e Venezuela com a manutenção da soberania da Venezuela e a permanência do governo Maduro no poder. Em todos os cenários acima descritos fica evidenciado que trata-se de uma ato de barbárie a ação neoimperialista dos Estados Unidos contra a Venezuela, a começar com os assassinatos praticados pela frota naval norte-americana operando contra supostos narcotraficantes no Mar do Caribe, o recente fechamento do espaço aéreo da Venezuela, a ameaça de deposição do Presidente Nicolás Maduro, a tentativa de desestabilização do governo da Venezuela e o propósito de se apossar das reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo. É preciso barrar a ação neoimperialista de Trump antes que cometa mais crimes de guerra contra outros países, antes que seja tarde demais.
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* Fernando Alcoforado, 85, é associado emérito da AEPET-BA, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona.
