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Em meio às belezas naturais de Maceió, as minas de sal-gema escondem uma história de perigos que só evoluíram. Do período da ditadura à atualidade, a exploração dessas minas pela Braskem tem deixado um rastro de destruição e ameaças à vida dos moradores.

Recentemente, o colapso da Mina 18 expôs o risco iminente enfrentado pelos moradores. Comunidades isoladas, evacuações controversas e a falta de informações precisas estão deixando os moradores desesperados. Casas inclinadas, esgoto a céu aberto e rachaduras nas estruturas evidenciam o perigo latente, enquanto a resposta inadequada dos órgãos públicos contribui para a vulnerabilidade dessas pessoas à margem da Lagoa Mundaú.

 

A ditadura e o sim silencioso

A ditadura militar não apenas permitiu, mas reprimiu manifestações contrárias à exploração das minas de sal-gema, enquanto mantinha documentos comprometedores contra a atual Braskem sob sigilo. Esse silêncio contribuiu para a tragédia que se desenrola atualmente.

Segundo informações divulgadas pelo canal Intercept, em meados dos anos 1970,  movimentos sociais em passeatas e até por um bloco de Carnaval, anunciaram os riscos da exploração das minas. O Intercept resgatou notícias publicadas pela imprensa local sobre protestos críticos à exploração na capital alagoana. A ditadura reprimiu as manifestações, espionou reuniões sindicais e, em 2002, Salgema se tornou Braskem.

Décadas se passaram, e as oligarquias locais, em cumplicidade com a Braskem, mantiveram acordos que negligenciaram os riscos evidentes da exploração desenfreada. Os governos federais que sucederam a Ditadura, no mínimo, foram omissos diante dos abusos e descasos cometidos pela empresa.

 

O grito de socorro nas comunidades afetadas

A ruptura da Mina 18 em novembro de 2023 expôs a calamidade vivida pelos moradores afetados. Casas inclinadas, parede das casas com água e rachaduras, esgoto a céu aberto e risco iminente de colapso. Moradores como Sônia Ferreira e Leandro relataram as condições precárias que enfrentam e destacam, principalmente, a falta de informação por parte dos órgãos públicos, à reportagem da Mídia Caeté.

“Estamos vivendo momentos de terror aqui. Ninguém veio falar com a gente para explicar o que está acontecendo. Estamos nervosos. Estou aqui tomando calmantes porque não consigo dormir direito e ninguém consegue mais. Não dá para comer ou dormir. O medo é de a barreira descer, da mina ceder e morrer todos os moradores daqui. Problema seríssimo. Se não for a comunidade que se esforça para se comunicar com alguém, a gente não sabe de nada”, conta Sônia.

Segundo a reportagem dos portais locais, a negligência da Prefeitura de Maceió, evidenciada pela instalação insuficiente de centros de acolhimento desativados, demonstra a falta de compromisso com a população afetada. Além disso, a  resposta tardia da Defesa Civil e da Prefeitura, que optaram por comunicados em redes sociais em vez de presença efetiva no local, ressalta a desatenção do município.

“Esse é o descaso que o senhor prefeito deixa para a gente. Três anos e a gente e todo mundo aqui é esquecido. Eles nem vêm, mas quando vêm dizem que aqui afunda e aqui fica. A água está minando por baixo das casas. Têm casas rachadas, e para ele está tudo normal porque nunca veio fazer visita”, conta Leonardo.
A atual situação em Maceió revela uma trágica consequência de erros cometidos no passado. Como bem foi pontuado na reportagem da Mídia Caeté, é evidente os sinais da necropolítica de uma cidade que vira as costas para os moradores, que são tratados como “invisíveis”, marcados para morrer, enquanto a cidade prioriza interesses econômicos e turísticos em detrimento da segurança e dignidade humana.
Diante desse cenário desolador, a população afetada grita por socorro. A venda iminente da Braskem traz incertezas sobre o futuro da empresa e a possibilidade de repetição de erros do passado. Enquanto isso, as comunidades atingidas permanecem à margem, lutando por reconhecimento e realocação diante de uma tragédia anunciada.

Petrobrás aguarda venda majoritária

A Novonor (ex-Odebrecht) , que perpassou com sua máquina de corrupção, governos municipais, estaduais e federais, de todas as colorações e matizes ideológicas e partidárias, possui o controle da Braskem com 38,3%, mas precisa vender sua fatia para quitar dívidas; a Petrobrás possui 36,1%; e 25,6% está com outros acionistas.

No governo Bolsonaro, em plano estratégico de 2020, a Petrobrás anunciou uma série de privatizações, entre elas a Braskem. Agora, em entrevista ao programa Roda Viva, em 02/10 passado, na TV Cultura, o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, afirmou que é esperada a conclusão da venda do controle da Braskem pela Novonor até fevereiro de 2024. E, que, somente depois, a Petrobrás resolverá, dependendo de quem for o novo sócio, se vai incrementar sua posição ou não na Braskem

O povo prejudicado aguarda indenização no patamar dos danos e sofrimentos que lhes foram impostos.

A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) divulgou uma nota em solidariedade ao povo alagoano. A Federação exige que o poder público tome todas as providências cabíveis para responsabilizar a Braskem pelo maior desastre ambiental urbano do Brasil.

Leia aqui a nota da FNP


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