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Fernando Siqueira: “EUA querem Petrobrás ‘enxuta’, para ser comprada a preço baixo, levando junto o pré-sal”

Representante da AEPET na Assembleia Geral Ordinária de Acionistas da Petrobrás (AGO), realizada no último dia 27 de abril, o diretor Administrativo, Fernando Siqueira, revela preocupação com as pressões de investidores estrangeiros, ávidos por dividendos, e dos Estados Unidos, interessados no pré-sal – uma reserva de mais 50 bilhões de barris pertencentes à Petrobrás, capaz de suprir por cerca de 10 anos o consumo dos norte-americanos – sobre o governo brasileiro, que não pode contar com o Congresso reacionário.

“Os Estados Unidos querem uma Petrobrás ‘enxuta’, para que possa ser comprada a preço baixo, levando junto o pré-sal”, disse Siqueira à coluna, acrescentando que, por seu turno, o sistema financeiro está interessado na manutenção da absurda política de preços, que pressiona a inflação e dá espaço para a falsa argumentação de que é preciso manter os juros altos sem demanda aquecida.

Devido às limitações de tempo, o diretor Administrativo concentrou sua fala na AGO em três dos seis pontos do voto da AEPET, já protocolado na Petrobrás:

Recompra das ações (ADRs) vendidas ao EUA por Fernando Henrique Cardoso

“FHC vendeu 36% do capital total da Companhia na bolsa de Nova Iorque. Hoje a participação dos estrangeiros subiu para 44%. Esses acionistas são remunerados com dividendos absurdos, transferindo patrimônio do povo para eles, maioria estrangeiros. Compraram as ações por valor irrisório e hoje são donos de 44% da rentabilidade da Petrobrás, por conseguinte, do pré-sal. Somente em 2022 os estrangeiros recuperaram tudo o que pagaram na época de FHC”.

Siqueira pondera que a participação dos estrangeiros atualmente supera a dos acionistas brasileiros e até a fatia do governo, algo que fica evidente na distribuição de R$ 215 bilhões em dividendos, pagos em 2022:

Acionistas privados (total): R$ 136 bilhões (63,25% do capital total da Petrobrás)

Acionistas privados estrangeiros: R$ 95 bilhões (44%)

Participação do governo: R$ 78 bilhões (36,75%)

“Ter ações na bolsa de Nova Iorque não traz qualquer benefício para o povo brasileiro e submete a Petrobrás à legislação dos Estados Unidos, dando acesso a documentos estratégicos da Companhia. Verdadeira espionagem legalizada.”

Outra desvantagem de ter ações na bolsa de Nova Iorque: no caso do chamado “Petrolão”, que deu prejuízo contabilizado de R$ 8 bilhões, dos quais mais de R$ 6 bilhões foram recuperados, os acionistas americanos moveram ação contra a Petrobrás e Pedro Parente pagou R$ 12 bilhões, na época. Enquanto isso a Petrobrás não paga R$ 15 bilhões que deve à Petros. É um paradoxo.”

PPI

O segundo ponto criticado por Siqueira foi a política de preços para os combustíveis – Preço Paritário de Importação (PPI) – que está associada à absurda distribuição de dividendos por gerar lucros igualmente absurdos no curto prazo. O diretor Administrativo da AEPET pondera que o alto preço do diesel corrói o patrimônio dos brasileiros, enquanto consumidores, e tem impacto direto sobre a inflação e cadeia produtiva.

“O custo de produção do diesel para a Petrobrás é R$ 1,20 o litro, mas a Companhia o vendia, em janeiro, a R$ 4,50. É um ganho de praticamente 400%. Nenhuma petrolífera tem esse ganho, que produz efeito deletério na economia.”

Juros x inflação

Esse preço absurdo do diesel gera vários prejuízos para a população brasileira. Primeiro, sendo o diesel um combustível usado no transporte de alimentos, pessoas e materiais, gera uma inflação extremamente alta e perniciosa.

Em 2022 alguns alimentos apresentaram alta de 30%, dando pretexto ao Banco Central dito “independente”, mas que está dominado pelo sistema financeiro, a elevar a taxa de juros ao mais elevado patamar do mundo sob argumento de combater inflação, que é um argumento falso, pois a inflação não é de demanda.

“Somente no ano passado o governo desviou para o sistema financeiro praticamente R$ 2 trilhões, metade do Orçamento Federal, de acordo com cálculos da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, em detrimento da Saúde, Educação, Segurança, Investimento Público e outros. A Auditoria calcula também que essa dívida já foi paga cinco vezes”, resume Siqueira.

Clique aqui para ler a íntegra do voto da AEPET na AGO de 27 de abril


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