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Ex-diretor da estatal participou de Live da AEPET-BA e pediu mobilização nacional para reconstruir a Petrobrás pública, integrada e a serviço do Brasil

A defesa da soberania energética e a reconstrução da Petrobrás estiveram no centro do debate realizado pela AEPET-BA na terça-feira, 21 de outubro, às 19h, durante a Live com Guilherme Estrella, transmitida pelo canal da entidade no YouTube. O encontro foi mediado pelo presidente da AEPET-BA, Marcos André, e pela diretora de Comunicação, Érika Grisi.

A Live foi marcada pela forte participação do público, que interagiu o tempo todo com perguntas, comentários e elogios, demonstrando o interesse e o engajamento no tema.

Na abertura, Marcos André apresentou dados sobre a política de dividendos da Petrobrás, mostrando que a estatal vem pagando valores recordes a acionistas, ao mesmo tempo em que reduz seus investimentos em exploração, refino e pesquisa

Veja aqui o levantamento Apresentação Marcos Andre

Marcos ressaltou que a AEPET-BA tem alertado para o risco dessa política de enfraquecimento deliberado da empresa, que compromete seu papel estratégico no desenvolvimento nacional.

A diretora de Comunicação, Érika Grisi, criticou o fato de a direção da Petrobrás repetir o discurso de que a empresa vive um momento de “resiliência operacional”, ressaltando sua suposta capacidade de se adaptar às mudanças e superar desafios. Segundo ela, essa narrativa não condiz com a realidade vivida pela categoria, marcada por cortes de custos extremos, restrições de viagens e um clima de insegurança, como se a companhia estivesse à beira da falência.

Para Érika, o conceito de resiliência tem sido aplicado de forma equivocada dentro da Petrobrás. “Muito se fala sobre resiliência empresarial como sinônimo de inovação e fortalecimento. Mas, na prática, os petroleiros e petroleiras têm sentido o contrário: mais cobrança, menos recursos e um crescente distanciamento entre a alta gestão e a base”, afirmou.

“O petróleo não é mais nosso”

Em sua fala, Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás e um dos responsáveis pela descoberta do pré-sal, foi categórico: “O petróleo não é mais nosso.”

Segundo ele, a queda do monopólio estatal do petróleo, ocorrida durante o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, foi o ponto de inflexão em que a Petrobrás deixou de ser um instrumento de soberania para se transformar em um fundo de investimento voltado à geração de lucros e dividendos.

“Foi no governo de FHC que a Petrobrás deixou de ser uma empresa de Estado para servir ao povo brasileiro e passou a funcionar como uma empresa financeira, voltada ao mercado e aos acionistas. O foco no lucro substituiu o foco no desenvolvimento nacional”, afirmou Estrella.

Desmonte e perda de integração

O geólogo explicou que a Petrobrás foi concebida como uma empresa integrada, atuando da exploração à distribuição, o que garantia autossuficiência, estabilidade de preços e controle sobre o abastecimento interno.

“Quando se quebra essa integração, a empresa perde o controle sobre a cadeia produtiva e o país perde sua soberania energética”, alertou.

Estrella destacou ainda que o desmonte promovido nos últimos anos — especialmente durante os governos Temer e Bolsonaro — comprometeu a capacidade da Petrobrás de investir, planejar e operar com autonomia.

“Depois de tudo o que foi desmontado, está muito difícil arrumar a casa”, lamentou.

Venda da BR Distribuidora: o golpe silencioso

Um dos pontos mais críticos levantados por Estrella foi a venda da BR Distribuidora, que ele classificou como um “golpe silencioso” contra a soberania nacional.

“Com a privatização da BR Distribuidora, a Petrobrás vendeu também a sua marca. Pouca gente sabe que, quando abastece em um posto com a bandeira Petrobrás, está comprando combustível de outra empresa”, explicou.

O ex-diretor defendeu que a estatal retome sua presença no setor de distribuição, pois este é o elo que garante a regulação dos preços e o abastecimento equilibrado em todo o território nacional.

“Sem a distribuição, a Petrobrás perde o comando do sistema energético. A venda da BR foi uma mutilação grave”, disse.

Bahia: berço do petróleo e símbolo da soberania

Em relação à Bahia, Estrella foi enfático ao defender a recompra da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), privatizada em 2021 e hoje rebatizada de Refinaria de Mataripe.

“A Bahia foi onde nasceu a indústria do petróleo no Brasil. Por isso, é simbólico e estratégico que o Estado retome o controle da refinaria. É uma questão de soberania nacional. Nessa decisão, o fator político deve prevalecer sobre o econômico”, afirmou.

Para Estrella, a RLAM não é apenas um ativo industrial, mas um símbolo da construção da Petrobrás e da presença histórica da empresa no Nordeste. Sua recompra seria um passo essencial para reintegrar a Petrobrás à economia baiana e restabelecer o equilíbrio regional da produção e do refino.

Mobilização pela Petrobrás pública e pelo futuro do Brasil

Estrella convocou os petroleiros, engenheiros, aposentados e toda a sociedade a se mobilizarem pela reconstrução da Petrobrás como empresa pública, integrada e a serviço do povo brasileiro.

“A soberania energética depende da nossa mobilização. É uma luta política, não técnica. Se o povo não defender a Petrobrás, o Brasil continuará dependente do capital financeiro internacional”, concluiu.

A AEPET-BA reafirmou seu compromisso de continuar debatendo, informando e organizando ações em defesa da Petrobrás e pela sua reconstrução na Bahia, destacando que sem soberania energética não há desenvolvimento nacional.

Assista à Live completa no canal da AEPET-BA no YouTube


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