A história da estatal é marcada pelo protagonismo da Bahia, berço da indústria do petróleo no Brasil, e também pela firme resistência dos petroleiros e petroleiras diante de sucessivos ataques. Se nas décadas passadas o povo brasileiro venceu a batalha para criar a Petrobrás, mais recentemente a luta foi contra a tentativa de destruição da empresa durante os governos Temer e Bolsonaro.
Privatizações e desmonte
Nunca antes a Petrobrás esteve tão perto de ser desintegrada como nesse período. Refinarias, subsidiárias e ativos estratégicos foram colocados à venda, desmontando a estrutura da estatal. A Bahia foi um dos estados mais afetados com a destruição. A Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde, orgulho do povo baiano, foi vendida ao fundo árabe Mubadala por apenas US$ 1,6 bilhão — metade do valor real.
Além da RLAM, foram vendidas a Reman, de Manaus, para a Atem’s Distribuidora de Petróleo S.A. (Atem), e o Polo Potiguar, que contempla a Refinaria Clara Camarão, no Rio Grande do Norte, para 3R Petroleum.
A entrega não parou por aí. Foram privatizadas também a BR Distribuidora, Liquigás, Gaspetro, TAG, NTS e refinarias em outros estados, além de campos de petróleo, termelétricas e fábricas de fertilizantes. A política de preços implantada desde o governo Temer, aprofundada por Bolsonaro, fez os brasileiros pagarem os combustíveis e o gás de cozinha mais caros da história.
O impacto na Bahia
A Bahia, que era o único estado com toda a cadeia integrada do petróleo — do poço ao posto —, perdeu essa condição estratégica com a privatização da RLAM e outros ativos. O resultado foi imediato: monopólio privado regional e combustíveis mais caros para a população baiana.
Outro golpe foi o fechamento do Torre Pituba, sede administrativa da Petrobrás em Salvador. A medida forçou a transferência de trabalhadores e trabalhadoras para outros estados, desestruturando famílias inteiras e enfraquecendo a presença da estatal na região.
A Fábrica de Fertilizantes (FAFEN-BA) foi arrendada para o grupo Unigel e seus trabalhadores também foram movimentados para outros estados.
A ameaça aos aposentados e pensionistas
Além do desmonte estrutural, os governos Temer e Bolsonaro impuseram aos aposentados e pensionistas o peso dos equacionamentos da Petros, que, junto com os descontos da AMS, comprometeram a sobrevivência de milhares de famílias. Muitos petroleiros viram-se em situação desesperadora diante da perda de renda, resultado de uma política que atacava frontalmente os direitos históricos da categoria.
Os ataques dos bolsonaristas, na gestão da empresa, contra os aposentados e pensionistas, penalizou com cobranças abusivas na AMS e na Petros, a ponto de terem mais de 50% de seus contracheques comprometidos. Trabalhadoras e trabalhadores que dedicaram suas vidas inteiras à Petrobrás viveram em situação de penúria, por conta de uma gestão que odiava os trabalhadores
Além dos descontos abusivos, o plano de Assistência Médica Supletiva passou a ser gerida por uma associação civil sem fins lucrativos, de autogestão, passando a ser APS, acabando com o modelo de administração da própria empresa.
A trincheira da resistência
Apesar do cenário de destruição, a mobilização popular, sindical e associativa não cessou. A AEPET-BA, junto a outras entidades, denunciou cada passo do desmonte, organizou resistência e manteve viva a chama da luta pela Petrobrás pública, integrada e a serviço do povo brasileiro.
O ex-diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, lembrou em mensagem aos petroleiros baianos:
“Foi na Bahia que jorrou petróleo pela primeira vez e começou a ser gestada a Petrobrás. A recriação da Petrobrás vai começar também na Bahia, com a recuperação da nossa primeira refinaria. A RLAM é muito mais que a Refinaria Landulpho Alves Mataripe, é a materialidade simbólica da essência nacionalista da Petrobrás e da nossa soberania como Nação e povo.”
72 anos: reconstruir e avançar
Hoje, sob o governo Lula, o desafio é reconstruir a Petrobrás como empresa integrada e estratégica para a transição energética justa e inclusiva. Essa luta passa necessariamente pela reestatização da RLAM e das demais unidades vendidas, pela valorização dos trabalhadores e trabalhadoras, e pela solução dos equacionamentos que penalizam aposentados e pensionistas.
Nos 72 anos da Petrobrás, a AEPET-BA reafirma seu compromisso histórico: defender a maior empresa do Brasil, símbolo da soberania nacional, e lutar para que ela volte a ser patrimônio do povo brasileiro.
Leitura obrigatória
O livro “A Petrobrás Fatiada – Prejuízos para a Engenharia e Soberania Nacionais”, que conta com a participação da vice-diretora de Comunicação da AEPET, Patrícia Laier, denuncia ilegalidades que foram sendo promovidas gradualmente, visando o desmonte da Petrobrás enquanto indutora do desenvolvimento e comprometendo a soberania nacional. A obra também discute a evolução dos preços dos combustíveis entre 2010 e 2021 e demonstra que é possível uma política tarifária capaz de induzir o crescimento econômico do Brasil, prevendo a transição energética, com geração de riqueza, mas sem penalizar a sociedade, sobretudo os mais pobres.
Leia aqui o livro A Petrobrás Fatiada
Para contribuir com o debate, nos 70 anos da Petrobrás, a pedido da AEPET-BA, o economista e ex-diretor da AEPET-BA, Marival Matos, divulgou um estudo sobre a necessidade imperativa de reconstruir a Petrobrás e reestatizar os ativos vendidos.
Clique aqui e leia o estudo na íntegra