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A Bahia foi um dos destaques na greve nacional de advertência dos petroleiros, que ocorreu nesta quarta-feira, 26/03. A mobilização teve adesão expressiva em diversas unidades do estado, demonstrando a força da categoria na luta contra as medidas autoritárias da gestão Magda Chambriard.

O movimento contou com paralisações em importantes bases operacionais e administrativas, reforçando o recado de intolerância a retrocessos e ataques aos direitos dos trabalhadores.

Desde a meia-noite, os petroleiros da Bahia interromperam as atividades, iniciando a paralisação na área de produção de Taquipe e no Terminal Madre de Deus (BA), onde houve corte na rendição dos turnos.

Em Salvador, a adesão foi massiva entre os trabalhadores da unidade administrativa, no Torre Pituba, com uma grande concentração na área externa do prédio. Diretores da AEPET-BA tiveram uma atuação muito importante durante a greve, conscientizando a categoria e ajudando na operacionalização do movimento.

Na ocasião, o presidente da AEPET-BA, Marcos André, e a diretora de Comunicação da entidade, Erika Grisi, fizeram intervenções contundentes.

Erika criticou a censura e a repressão enfrentadas pelos trabalhadores da Petrobrás. Ela destacou que apesar de lutar pelos direitos há muitos anos, desta vez a situação mais grave é “estamos sendo silenciados. Não podemos comentar publicações da empresa, participamos de eventos internos onde fecham perguntas e respostas. Isso é um absurdo!”, denunciou.

Ela destacou que o respeito é uma reivindicação essencial para além dos direitos trabalhistas: “A gente exige respeito e está faltando respeito. Tínhamos muita repressão no governo anterior, e agora estamos sendo silenciados novamente”.

Já Marcos André ressaltou a importância da luta coletiva e da consciência de classe para enfrentar os desafios da categoria. “A greve é um ato coletivo. Você entregaria o seu direito na mão de um bolsonarista? Quando tratamos a luta coletiva como um problema individual, estamos fortalecendo nossos opressores”, afirmou.

O presidente da AEPET-BA também criticou a drástica redução do quadro de trabalhadores na Petrobrás, o sucateamento da força de trabalho e a uberização das atividades. “Nos anos 80, a Petrobrás tinha o dobro de empregados que tem hoje, e a tecnologia virou nosso capataz, não nossa aliada. Perdemos 40 mil empregados e um número ainda maior de terceirizados. No Nordeste, a perda foi de 70% da força de trabalho, e a Petrobrás segue produzindo igual.”

Ele também denunciou a destinação do lucro da empresa para dividendos em detrimento dos trabalhadores: “Se a Petrobrás botasse 207% do lucro líquido em qualquer outra coisa, seria um escândalo nacional. Mas para dividendos, tudo bem. E ainda querem cortar nossa PLR, já acordada e assinada!”

Sobre a luta contra a imposição do trabalho presencial, Marcos André alertou: “Não assinar é um compromisso. Se a empresa puder tirar um dia de teletrabalho sem negociação, o que impedirá que tire os outros dois? Precisamos retomar a consciência de que essa empresa é nossa!”

Ao fim de sua fala, ele propôs um reforço na mobilização: “Precisamos fazer pelo menos dois dias de setorial toda semana. Precisamos todos os dias falar com as pessoas sobre a importância de participar da luta!”

Outros empregados se manifestaram criticando a postura da atual gestão da Petrobrás. Dentre os depoimentos, um dos pontos mais recorrentes foi a insatisfação com a decisão da empresa de exigir o retorno presencial de três dias por semana, medida que muitos consideram incoerente com os próprios valores propagados pela companhia.

Luciana Frontin participou da greve em Salvador

A empregada Luciana Frontin, que já havia se tornado conhecida por ter lido uma carta crítica à Diretoria Executiva da Petrobrás durante uma live do setor de SMS, participou do movimento no Torre Pituba. O vídeo com sua fala viralizou e gerou polêmica, sendo alvo de críticas de setores contrários à sua posição.

Na greve, Luciana voltou a defender o atual modelo híbrido e reforçou a necessidade de diálogo com os trabalhadores antes de qualquer mudança significativa. Em sua fala, ela destacou:

“Se a nossa empresa diz que cuida dos trabalhadores, temos que exigir coerência. Estamos defendendo a saúde dos trabalhadores, porque queremos trabalhar, mas de forma sustentável. Grandes empresas já entenderam isso e adotam modelos conciliatórios para reter talentos. A imposição do retorno presencial pode não levar à perda imediata de funcionários, mas causa desmotivação, adoecimento físico e mental. Não faz sentido mudar um modelo que já se mostrou eficiente sem qualquer negociação.”

Luciana também rebateu as críticas que recebeu, associando-as a uma tentativa de desmoralizar os trabalhadores e fortalecer o discurso da privatização:

“A mídia mal-intencionada pegou uma frase minha fora de contexto e jogou em um ambiente hostil, que já busca nos colocar contra a opinião pública. Esse tipo de estratégia fortalece a narrativa privatista, e por isso precisamos nos posicionar, mas sem cair no discurso de ódio que caracteriza o bolsonarismo.”

Por fim, Luciana leu novamente a carta que havia repercutido, mantendo sua posição firme sobre a necessidade de um ambiente de trabalho que respeite a qualidade de vida dos empregados:

“Se vamos sacrificar nossa saúde e bem-estar pela empresa, no mínimo, isso precisa fazer sentido para nós – e não está fazendo. O trabalho híbrido já se mostrou eficaz. Se a diretoria executiva considera necessária alguma mudança, que isso seja feito de forma negociada, respeitando as necessidades reais dos trabalhadores.”

Outra empregada do Torre Pituba expressou sua indignação com a decisão, apontando a contradição entre o discurso da Petrobrás e sua prática:

“Existe um descompasso entre o que a empresa propaga em seu Código de Valores e o que realmente observamos. A Petrobrás afirma se preocupar com a qualidade de vida dos empregados e com sua saúde mental, mas, ao mesmo tempo, impõe um retorno ao presencial que não se justifica. Na cartilha de volta ao trabalho, a empresa menciona a necessidade de condições físicas adequadas para o trabalho remoto, mas eu já trabalhei em Taquipe sob condições muito piores do que as que tenho em casa. Então, qual é a real justificativa para essa mudança?”

Mobilização nacional reflete insatisfação generalizada

De norte a sul do país, a categoria petroleira aderiu massivamente à greve de 24 horas, enviando um forte recado de resistência à gestão da Petrobrás. O movimento contou com o apoio das duas federações dos petroleiros e seus sindicatos e teve grande repercussão na mídia, sendo noticiado pelos principais veículos de comunicação.

A greve foi um ato de repúdio às medidas autoritárias da gestão Magda Chambriard e aos ataques aos fóruns de negociação coletiva. Os trabalhadores exigem respeito à boa-fé negocial, a suspensão das mudanças unilaterais no teletrabalho e a garantia do pagamento integral da PLR, sem o corte de 31% que a empresa pretende impor.

Outras reivindicações incluem a recomposição dos efetivos, um plano de cargos e salários unificado, melhores condições de trabalho para os contratados e o fim dos planos de equacionamento da Petros.

A AEPET-BA defende a imediata abertura de negociações para a redução da jornada sem diminuição de salários e direitos, com a implantação do regime administrativo 4×3 (quatro dias de trabalho e três de repouso remunerado). Além disso, reivindicamos a adequação das jornadas em regimes de turnos e embarques, garantindo compatibilidade com uma carga horária semanal de 30 horas.

A greve de advertência serviu como um alerta à Petrobrás sobre a insatisfação da categoria e a necessidade de repensar suas diretrizes de gestão de pessoal.

Nesta quinta-feira (27/03), as federações dos petroleiros estão reunidos para definir os próximos passos do movimento.

Nenhum passo atrás! Magda respeite os trabalhadores!

Veja a galeria de fotos da greve no Torre Pituba:


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