Mais de 4 milhões de estudantes enfrentam dificuldades de acesso à internet; idosos são os que menos acessam a rede
O Governo Federal criou o programa “Pé de Meia”, que visa dar um incentivo financeiro-educacional a estudantes do ensino médio inscritos no CadÚnico, de acordo com informações do Ministério da Educação. No entanto, a iniciativa pode ser ofuscada pelas desigualdades do Brasil, como, por exemplo, o acesso à internet.
Embora a documentação, frequência e dados dos alunos sejam enviados pela instituição de ensino para que a conta seja aberta, os estudantes ainda precisam consultar os pagamentos por meio do aplicativo Jornada do Estudante, e é aí que está o problema.
Cerca de 4,1 milhões de alunos de escolas públicas no Brasil têm dificuldades para acessar a internet adequadamente, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. Esse número representa cerca de 79% do total de estudantes em escolas públicas brasileiras, revelou o ministro da Educação, Camilo Santana, em um levantamento de dados feito para identificar o estado atual da conectividade nas escolas públicas de todo o país.
A iniciativa do governo busca, principalmente, diminuir a taxa de evasão escolar no ensino médio, que atualmente é de 5,9%, segundo dados do Censo Escolar divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Muitos jovens abandonam a sala de aula porque precisam trabalhar para ajudar nas despesas de casa, já que se sabe que esses alunos são, em sua maioria, de baixa renda.
Como a desigualdade digital no Brasil não é novidade, em 2021, durante a pandemia de COVID-19, milhões de brasileiros não conseguiam sacar, consultar ou transferir pelo aplicativo Caixa Tem o dinheiro recebido do Auxílio Emergencial pago pelo Governo Federal às famílias em situação de vulnerabilidade.
“Não tem como usar porque eu não tenho telefone. Não tenho celular. Esse dinheiro está fazendo falta porque eu não trabalho. Meu marido está desempregado também. A gente está vivendo de doação. A geladeira está vazia”, disse a diarista Maria de Lourdes da Silva ao Jornal Nacional, da TV Globo, na época.
A situação é semelhante na área petroleira, onde aposentados relatam desafios para acessar serviços de saúde e da aposentadoria que, antes, eram presenciais, como Petros e a antiga AMS (hoje Saúde Petrobrás). Agora, muitos são obrigados a utilizar sistemas digitais que ignoram as limitações tecnológicas e de idade.
Segundo dados do IBGE, a faixa etária que menos usa internet no Brasil é a de 60 anos ou mais: cerca de 66%, ou seja, 34% dos idosos brasileiros não utilizam a internet.
Na atualidade, a digitalização dos serviços utilizados pelos aposentados e pensionistas tanto na Petros como na antiga AMS dificulta o direito de uso a serviços e informações. Apesar de ter um posto de atendimento presencial em Salvador, no caso da AMS, o agendamento deve ser feito apenas pela internet, mais um empecilho que poderia facilmente ser resolvido.
O uso de tecnologia para auxiliar em atendimentos é muito bem-vindo, pois sabemos que há pessoas com dificuldades locomotoras e o mundo caminha para ser cada vez mais tecnológico e digitalizado. No entanto, desconsiderar o percentual de pessoas sem familiaridade, sem acesso ou com dificuldades de acesso a instrumentos tecnológicos é excluir e tornar mais difícil a busca por igualdade e universalização dos serviços e, principalmente, direitos.