Por Marcos André, presidente da AEPET-BA
Como bons brasileiros e, principalmente, nordestinos, não podemos considerar que foi apenas a vitória de Lula, ou do PT, nas eleições de 30 de outubro. Essa vitória foi muito mais ampla e não se restringe a um partido, a uma pessoa ou mesmo a um segmento político seja de esquerda, direita ou centro.
A verdade é que nós, povo brasileiro, derrotamos a barbárie; nós, cidadãos brasileiros, optamos pelo caminho da civilidade, da democracia e da paz. Não foi a vitória de um político, foi a vitória da política contra a truculência, porque quando se exclui a política o que sobra é a violência, a truculência e a morte.
Venceu a sanidade em um país que parecia ter enlouquecido rapidamente. Pouco tempo atrás, falávamos em defender e proteger a floresta, falávamos em direitos, cultura e educação, pensávamos em viagens. Depois imperavam as Fake News, a defesa de “passar a boiada”, destruir as florestas, inflação de alimentos, disparada dos combustíveis, redução do orçamento para a educação e saúde e o retorno da fome.
Há pouco tempo, como seres humanos, produto de um processo de evolução social e humana, sonhávamos com um Brasil sem fome, mas hoje nossos irmãos e nossas irmãs passam fome ao nosso lado e somos indiferentes. Portanto, neste momento, não basta apenas derrotar o bolsonarismo, devemos recuperar a nossa humanidade; é necessário ressignificar o conceito de cidadania para substituir a passividade social, a indiferença social pela ação política consciente; não a dos políticos mais a de cada um de nós como seres políticos, participando ativamente das decisões que virão.
Não podemos nos contentar em ir às urnas, devemos assumir o compromisso de promover a fraternidade social, a convivência pacífica e o amor ao próximo, e acima de tudo ter a capacidade de nos importarmos com o outro.
Vamos recuperar os laços de família, de amizade para reconstruir uma sociedade solidária, menos doente, menos indiferente, menos egoísta e menos individualista. Precisamos rever o nosso papel na sociedade, porque, caso contrário, é momentâneo derrotar a truculência, a barbárie, a violência e a morte.
Mais do que nunca, como brasileiros, precisamos estar em constante vigília para defender a liberdade, retomar o símbolo da soberania nacional e os símbolos do nosso país para pôr fim ao complexo dos colonizadores que vende as riquezas do Brasil para enriquecer e dividir apenas com os seus o patrimônio roubado, destruindo tudo, enquanto sonha em viver em “um país civilizado”.
Devemos nos rebelar contra o pensamento de que o Brasil não é um país sério e que a corrupção, tanto no setor público quanto no privado, é própria do brasileiro.
Daqui para frente, vamos evitar ser envenenados com a mesma violência que os incentivadores do ódio espalharam pelo mundo e no Brasil. A vacina para tudo isso é a ação coletiva consciente e a ação cidadã, uma cidadania plena que a nossa democracia nos permite, participando na igreja, no sindicato, no clube, nas associações de classe, na associação de moradores. Vamos precisar encantar a juventude e enchê-las de esperança para que se engajem no movimento estudantil. Exercer a democracia em seu sentido participativo é a única solução para que a gente possa finalmente criar e educar os nossos filhos e netos, sonhando com um país melhor.
Parabéns a quem não aderiu à barbárie, parabéns a quem sobreviveu, parabéns a cada um de nós que mantendo a nossa humanidade entregamos o que também há de mais humano: a nossa esperança. Não a esperança contemplativa, mas a esperança ativa de que um novo dia virá. Vamos abrir as janelas e as cortinas para que o sol entre e ilumine o mundo triste onde vivemos hoje.
A nossa saudação aos corajosos. A AEPET-BA parabeniza a todos e todas que participaram incansavelmente dessa luta para recuperar a nossa soberania nacional e também a nossa humanidade. Os desafios são muitos, vamos lutar pela reconstrução da Petrobras na Bahia com a participação do povo e ter mais empregos de qualidade, mais investimentos. Lutar pela retomada do patrimônio do povo, da RLAM, da FAFEN-BA, a exploração dos campos terrestres e novos investimentos em prospecção em terra e no mar, novos investimentos em energias renováveis e biodiesel. Queremos muito mais que sermos recordistas de brasileiros que passam fome. Ela decorre dos muitos anos de abandono onde os recursos públicos e privados só eram aplicados no sul e sudeste do país.
Não rivalizamos com nossos irmãos e irmãs brasileiros (as) de todas as regiões, mas não aceitamos a xenofobia dos que nos odeiam pelo que somos, nem a dos que nos veem folcloricamente e apenas como destinatários da caridade. Somos um povo forte historicamente injustiçado que deseja apenas viver, ao nosso modo, com dignidade e reconstruir a Petrobrás no Nordeste e na Bahia é condição de superação das desigualdades regionais e sociais que têm sido a tônica da visão que norteiam as políticas no Brasil. A caridade dos bons e o ódio dos maus, como duas facetas do mesmo racismo, descentralizar os investimentos públicos e criar as condições de investimentos privados é a única forma decente de nos vermos e sermos vistos como iguais.
Junte-se a nós para reconstruir a Petrobrás na Bahia e a soberania em todo o Brasil. Participe e se engaje para reescrever a história do nosso povo, afinal, somos todos e todas vencedores porque a barbárie foi derrotada.