Compartilhe

A AEPET-BA manifesta pesar pelo falecimento da médica e pesquisadora Margarida Maria Silveira Barreto, nesta quinta-feira (03/03). Ela era professora do curso de Pós-graduação em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Também conhecida no meio científico e sindical por seu pioneirismo nos estudos que identificaram e conceituaram o assédio moral no trabalho.

Doutora em Psicologia Social e integrante pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a médica foi também precursora dos estudos sobre assédio sexual. Assim, ajudou a identificar o impacto das diversas formas de assédio na vida dos trabalhadores.

Margarida lutava há mais de um ano contra um câncer no estômago. Mas, imunodepressiva, acabou perdendo a energia para prosseguir o tratamento ao contrair o coronavírus no início deste ano. A quinta-feira (03/03) foi de perdas para a ciência brasileira, com a morte do físico Luiz Pinguelli Rosa

 

Em entrevista à Revista do Brasil de junho de 2011, Margarida afirmou, “Para nós foi muito impactante constatar que o trabalho nos últimos anos esteja sendo tão duro, exigindo tanto, e que as pessoas estejam tão sobrecarregadas a ponto de, além dar o sangue e o suor, dar a vida em determinados casos.”

“Falta um pouco de amor, de respeito e de fraternidade”, dizia a médica.

 

E não apenas no ambiente propriamente de produção laboral, mas até dentro dos espaços sindicais, das ONGs, entre outros relacionados ao mundo do trabalho. “Falta também o indivíduo ver o outro como um igual em direitos”, dizia ela.

 

“Combater a violência é uma longa luta. Mas aprendemos que a única luta que se perde é aquela que se abandona” (Margarida Barreto)

 

Lançou o estudo Do Assédio Moral à Morte de Si – Significados Sociais do Suicídio no Trabalho, um trabalho de pesquisa com 400 trabalhadores das indústrias químicas de São Paulo, em 2010. Para se ter ideia da gravidade das pressões e humilhações decorrentes do assédio moral, cerca de 71% dos entrevistados declaravam já não sentir prazer no exercício do trabalho. Além disso, 27% diziam ter ideias suicidas relacionadas ao trabalho. Ou seja, quase três em cada 10 trabalhadores­ já pensaram em dar fim à vida motivados por condições a que são submetidos.

 

Durante a pandemia de covid-19, Margarida Barreto prosseguiu atualizando seus estudos, identificando uma nova forma de hostilidade aos trabalhadores. Segundo ela, a forma negligente com que governos e empresas abordaram a gravidade da situação criou um ambiente de resignação e passividade, formando, assim, um “pacto de silêncio” que contaminou toda a sociedade.

“Vivemos uma crise econômica sem precedentes. Crise política profunda e sanitária devastadora. A pandemia vem acompanhada de uma desinformação acentuada. As decisões políticas são influenciadas pelo ambiente social. O próprio governo não se cansa de destruir direitos. Eu não sou otimista frente à passividade e ao pacto de silêncio que se formou e as pessoas aceitam”, disse, durante live realizada pela Agência Sindical, em setembro de 2020. Assim, na ocasião, ela reiterava a importância de as empresas abrirem os olhos.

 

Margarida escreveu também, com Roberto Heloani, Assédio Moral – Gestão por Humilhação (Juruá, 2018). Seu trabalho precursor na área é Violência, Saúde e Trabalho. Uma Jornada de Humilhações (Educ, 2003).

 

“É importante ficarmos atentos a essa cultura que desestimula, critica ou humilha, porque o assédio moral pode levar à morte. Existe um medo muito grande da demissão. A pessoa faz tudo para se manter no emprego”

 

Ao mesmo tempo, reforçava a importância de os sindicatos terem sua estrutura atuante na defesa da saúde do trabalhador. “Quando o trabalhador procura o sindicato é necessário que seja ouvido. O sindicato deve cuidar daquele caso, mas buscar conhecer o contexto da empresa. Sindicato deve ter médico que possa conversar com o trabalhador. Este precisa passar com um médico do trabalho, de preferência que tenha experiência em psiquiatria.”

Margarida Barreto deixa um importante legado, fruto de seus estudos e pesquisas sobre a saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras, que continuará contribuindo significativamente para a luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora.

(Com informações do Brasil de Fato e CUT)

 

 


Compartilhe