* Por Isabel Reis
A chegada do Ano Novo enche-nos de ilusão! Esconde-nos a verdade. Claro, o real expõe as vísceras, de modo que é melhor não saber ou, ao menos, duvidar!
E, assim, rodeados de esperanças, aguardamos os minutos finais, a hora da virada.
Ansiosos, acreditamos que à meia-noite seremos transformados em uma nova espécie humana ou, quem sabe, em um humano novo!
Amaremos incondicionalmente o outro que, por sua vez, merecerá e fará jus infinitamente ao nosso amor! Como diria o saudoso Adoniran Barbosa: “jogue as cascas pra lá, meu bem…”
Desse modo, nos postamos diante de um relógio que não mais anuncia as doze badaladas da zero hora e, nos entrelaços, ficamos a esperar.
Na era da tecnologia, a união dos ponteiros é aguardada com olhos fixos nos celulares: 2025 chegando!
Resta-nos o som agonizante dos fogos multicoloridos, com os seus efeitos eletrônicos e imagens em neon, pipocando nos ares belas acrobacias!
O tempo de saudação, de abraços, é tão curto quanto a certeza que temos de que não haverá tempo suficiente para sermos atravessados pelas faíscas do desejo, visto que apenas fazem parte de um cenário comercial. Sabe-se que onde há faísca haverá fogo!
Penso em nós, humanos, quanto nos faiscamos ao longo desse ano que, cronologicamente morre!
Quanto de pólvoras nos lambuzamos? Talvez, não o suficiente para atrairmos chamas, puxamos a toalha e varrermos o insuportável.
Ao contrário! Nos untamos de blindagens e máscaras, como se nada nos atingisse, nada nos fisgasse.
Nossos mecanismos de preservação estão ativados! E, para nos defendermos ainda mais, criamos um novo vocabulário, do qual são excluídas as palavras compaixão, generosidade, solidariedade, preocupação, amor, respeito…
Não há mais pontos de vista, o que há são vistas fixadas em um único ponto, sem penetrar no estado de uma horizontologia…
Ouve-se, agora, o tilintar das taças, o espocar dos fogos e o tão aclamado Feliz Ano Novo!!! Queremos, sim, um Feliz Ano Novo desde que o novo sejamos nós: nem eu, nem o outro, nós!
Não queremos só festas, queremos festejar! Festejar a paz, o fim das guerras; festejar o multicolorido das peles humanas, a multi forma de amar; festejar a escolha de morar no recanto ou na comunidade; festejar a solidariedade, a heterogeneidade… Festejar a religiosidade de cada pessoa, assim como o ateísmo, o judaísmos, só não o sionismo- esse destrói!
Vale aproveitar essa chance cronológica da virada e fazer a nossa lógica de existir! Mortos não se viram em suas tumbas!
Resta um VIVA para o ano de 2025, a grande virada dos vivos!
*Isabel Reis, petroleira aposentada e associada da AEPET-BA. É psicóloga/psicanalista