Desde que a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) foi vendida à empresa Acelen, em 2021, a Bahia vem registrando uma queda contínua no consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP), o popular gás de cozinha. Enquanto o restante do país retomou o crescimento no uso do produto a partir de 2022, a Bahia segue na direção oposta.
Entre 2021 e 2024, o consumo de GLP no estado caiu 11,5%, contrastando com o aumento de 3% registrado nos demais estados brasileiros. A tendência de queda se agravou em 2025: de janeiro a abril, a retração chegou a 10%, se comparado aos mesmos meses do ano passado, enquanto o consumo nacional subiu 1,36% no mesmo período. Os dados incluem todas as formas de GLP, como botijões de 5kg, 13kg, 190kg e o gás a granel.
De acordo com o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS) e da AEPET-BA, o principal fator por trás da retração é o preço elevado do gás de cozinha na Bahia. No primeiro quadrimestre de 2025, o preço médio do botijão de 13kg no estado foi de R$ 120,82, frente à média nacional de R$ 110. No restante do Nordeste (sem contar a Bahia), o valor foi ainda menor: R$ 103,66, ou seja, 14,6% mais barato do que na Bahia.
Em Salvador, o botijão de gás pode custar entre R$ 131,67 e R$ 154, sendo um dos mais caros do país. No interior, os valores são ainda mais elevados: em municípios como Luís Eduardo Magalhães, o preço pode chegar a R$ 170.
Essa disparidade tem origem direta na mudança na estrutura de fornecimento de GLP após a privatização da RLAM. Desde então, a Acelen, empresa controlada por um fundo árabe, passou a dominar 94% da oferta de GLP no estado, enquanto a Braskem responde pelos 6% restantes. Em contraste, a Petrobrás continua sendo responsável por 95% da oferta de GLP nos demais estados brasileiros.
Um levantamento recente do IBEPS mostra que, entre janeiro e abril de 2025, a Acelen vendeu o gás 64% mais caro que a Petrobrás. Em junho, essa diferença caiu para 42%, mas ainda representa um impacto significativo para o consumidor, especialmente considerando que o botijão de 13kg corresponde a 85% do GLP consumido na Bahia.
“Com a privatização da refinaria, a Bahia passou a depender de uma empresa que atua exclusivamente para maximizar seu lucro. A Acelen cobra preços muito acima da média nacional, o que prejudica diretamente o consumo e a renda disponível da população, especialmente das famílias mais pobres”, afirma Eric Gil Dantas, economista do IBEPS.
Diante desse cenário, a AEPET-BA reforça sua posição contrária à privatização da RLAM e defende a retomada da refinaria pela Petrobrás. Para a entidade, a gestão pública é essencial para garantir preços justos, segurança no abastecimento e a soberania energética da Bahia e do Brasil.
Somente com uma Petrobrás pública, integrada e comprometida com o desenvolvimento social, será possível assegurar o acesso a combustíveis e gás de cozinha a preços acessíveis para todas e todos.