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Por Isabel Reis*

Papai Noel, confesso que fiquei chocada com o abandono de suas vestes originais, trocadas por túnicas de cores sem cor! Quanta frustração para as crianças que viam naquela imagem, as botas de couro bem desenhadas, o vermelho da calça, camisa, gorro e o saco cor de sangue se derramando de presentes! Agora, estamos diante de um desbotado flicts, uma espécie de cor, que, segundo Ziraldo é uma cor de ocasião! Quem será esse novo Papai Noel?  E qual será a reação dele ao ler a minha cartinha? Espero que ao menos fique com a cara vermelha!

Aos setenta anos, e ainda sem aparente Alzheimer, é claro que não desejo uma brinquedoteca! Quanto a roupas, tenho suficientes que durarão ainda algum tempo, desde que as companhias aéreas não me façam perdê-las de vista…Tenho sapatos também, acessórios e balangandãs…Sabe o que me falta? E não se trata daquela falta estruturante freudiana. O que me falta é um presente real que ilumine os brasileiros – não é para brincar, é coisa séria, duradoura, eterna!

Quero que todos que prometeram nos levar para campos de concentração, habitem na prisão; todos que querem Escolas sem partido, sejam impedidos de as frequentarem, inclusive escolas de datilografia; quero que o verde- amarelo periquito seja extinto das casas de tintas e que seja substituído pelo verde-amarelo da nossa independência, baseado na igualdade, liberdade, e fraternidade! Papai Noel, sei que muitos fazem pedidos semelhantes e o meu espírito socialista jamais reclamará se, sob a minha cama e sobre os meus sapatinhos, não estiverem lá em vista de terem sido entregues a comunidade vizinha. Servirão a nós todos. Sentir-me-ei premiada!

Mais uma coisinha meu bom velhinho: Dar a César o que é de César! Presentei os militares com o quartel e quando nas ruas a favor do povo, sua proteção e segurança a todos os humanos, independentemente de cor, raça, categoria, status, gênero…Traga-lhes um saco de educação, bondade e honestidade. Acrescento que os que não aceitarem os seus presentes, você, de forma justa, use a penalidade máxima, cujo tempo seja o tempo do aprendizado!

Para a ceia do Natal, sabes, não temos estômago nem paz para degustá-la. Muitos se foram sem festejar: crianças, homens, mulheres, gays, trans… Como comemorar?

Como acordar todos os dias com a grande esperança de que um dia, haveremos de fazer um brinde a nossa liberdade e o repudio àqueles que, com suas cordas tentaram tingir a república com as cores do fascismo. Meu vermelho Papai Noel, sei que o saco é pesado, mas a dor de carregar o silêncio e as urnas ocupadas por inocentes, pesa muito mais nos corações dos brasileiros!

Dê-nos o Natal que merecemos: força, luta e democracia!

Com um grande abraço, me despeço, agradecendo a leitura e cumprimento dos pedidos da minha cartinha.

*Isabel Reis, petroleira aposentada e associada da AEPET-BA. É psicóloga/psicanalista


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