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Por Eric Gil Dantas*

Na noite desta quinta-feira, 21, a Petrobras publicou o novo Plano de Negócios (PN), versão 2025-2029 e o Plano Estratégico 2050 (PE 2050). O PN é um documento estratégico que define as metas, investimentos e prioridades da empresa para o médio (próximos cinco anos), enquanto o PE 2050 reflete sobre o futuro do planeta e como a empresa quer ser reconhecida no longo prazo, em 2050.

Sem sombra de dúvidas a Petrobras vem retomando seu papel como empresa nacional de grandes investimentos produtivos, função abandonada sob o governo Temer e Bolsonaro.  Como podemos ver no Gráfico 1, a proposta de investimentos totais da companhia para o próximo quinquênio vem crescendo consideravelmente nos dois planos elaborados pelas gestões indicadas pelo presidente Lula. No primeiro PN do governo petista a previsão de investimentos já havia saltado de US$ 78 bilhões para US$ 102 bilhões (+31%), agora cresce mais US$ 9 bilhões (+9%), atingindo os US$ 111 bilhões.

Analisando por setor, tivemos crescimento em todos eles, à exceção do Corporativo. Na E&P serão US$ 4 bilhões a mais, aumento de 5%. 60% destes investimentos serão para o Pré-Sal, um percentual menor do que ocorre atualmente (no 3º tri/24 cerca de 70% dos investimentos deste setor foram para o Pré-Sal), o que mostra que a Petrobras pretende aumentar a importância de outros segmentos, como afirma no documento: “a companhia mantém grandes projetos de revitalização (REVITs), buscando aumentar os fatores de recuperação em campos maduros, especialmente na Bacia de Campos”. Mas no Plano ainda não há menções claras à Pelotas e à Margem Equatorial.

No setor de Refino, Transporte e Comercialização, houve um aumento significativo de US$ 3 bilhões (+18%). Segundo o PN: “Os investimentos em refino visam, principalmente, a aumentar a capacidade do parque da Petrobras, ampliando a oferta de produtos de alta qualidade, como Diesel S10 e lubrificantes, e de combustíveis de baixo carbono. […] Com os projetos na carteira RTC do Plano, planeja-se aumentar a capacidade de destilação de 1.813 mil barris por dia (bpd) para 2.105 mil bpd, com destaque para os projetos da RNEST, que incluem revamp (ampliação) do Trem 1 e conclusão do Trem 2. A Petrobras aumentará a capacidade de produção de Diesel S10 em 290 mil bpd em seu parque de refino, considerando os projetos da Carteira de Implantação, e contará com sua primeira unidade de lubrificantes Grupo II (mais modernos), com capacidade de 12 mil bpd até 2029. Além disso, com projetos na Carteira de Avaliação, há potencial de adicionar capacidade de produção de Diesel S10 em mais 70 mil bpd para além de 2029”. Isto é bastante positivo, pois materializa a retomada do objetivo da Petrobras de diminuir o déficit de produção de Diesel S-10 no país, que ainda importa cerca de 25% do combustível. Nos nove primeiros meses de 2024 a importação deste combustível cresceu 6,2% se comparado ao mesmo período de 2023, o que mostra a urgência da expansão da capacidade de refino da estatal.

A companhia também planeja expandir a produção de biorefino, com o Diesel R5 (com 5% de conteúdo renovável) na REPAR, RPBC, REDUC e REPLAN, “Bioquerosene de Aviação – BioQav (SAF) e Diesel 100% renovável (HVO) via rota HEFA (Hydroprocessed Esters and Fat Acids), além de estudos de ATJ (Alcohol to Jet), rota para produção de SAF através do processamento de etanol”, bem como possíveis parcerias com a Riograndense e a Acelen nesta mesma área.

O segmento de Fertilizantes também é relevante, com “com investimentos que totalizam, no quinquênio, US$ 900 milhões em projetos como a retomada da construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), em Três Lagoas (MS), e a reativação da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados S.A. (ANSA), em Araucária (PR)”.

O segmento de Gás Natural e Energia também terá novos investimentos, principalmente com “o desenvolvimento de duas usinas termelétricas (UTEs) no Complexo de Energia Boaventura, em Itaboraí (RJ)”.

Por fim, no setor de Transição Energética houve também um crescimento significativo no que é classificado como projetos de baixo carbono, passando de US$ 11,5 bilhões para US$ 16,3 bilhões (+42%).  A distribuição destes investimentos está detalhada na Figura 1.

Os maiores incrementos estão focados na parte de Mitigação de Emissões (+US$ 1,4 bi) e nos Bioprodutos (+US$ 2,8 bi). Um destaque negativo deste segmento é a diminuição do investimento planejado para Energias Eólicas Onshore e Solar Fotovoltaica, que no PN anterior era de US$ 5,2 bilhões, US$ 900 milhões a menos.

Já do ponto de vista de longo prazo, o Plano Estratégico 2050 afirma que a Petrobras tem “a ambição de […] manter sua relevância atual no fornecimento de energia e no desenvolvimento econômico do Brasil, passando de 4,3 exajoules (EJ) em 2022 para 6,8 EJ em 2050, mantendo a representatividade da Petrobras em 31% da oferta primária de energia do Brasil. Além disso, a Petrobras reafirma a ambição de neutralizar suas emissões operacionais até 2050”. Isto ocorreria não só pela reposição de reservas de petróleo, mas também com a expansão das fontes de energia da empresa, como as energias renováveis.

Na quinta-feira (21/11), a Petrobras também divulgou a notícia do pagamento de dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões, que já se somam aos outros R$ 44,14 bilhões de dividendos dos três primeiros trimestres. Dividendos estes que já excedem a atual política de remuneração aos acionistas, que prevê um mínimo de 45% do fluxo de caixa livre. A manutenção desta política, e mais do que isto, o pagamento dos dividendos extras, vai completamente de encontro à necessidade do aumento de investimentos. No Planos de Negócios a previsão é de pagamento de até US$ 55 bilhões em dividendos para o próximo quinquênio, o que daria R$ 319 bilhões (R$ 64 bilhões por ano). É dinheiro que deixa de ser investido, investimento que deixa de ser expandido de acordo com as necessidades da estatal e da economia do país.

Em síntese, o novo Plano de Negócios publicado pela Petrobras tem aspectos positivos, pois: (i) mantém o movimento iniciado pela Petrobras em 2023 de retomar o seu papel estratégico como empresa de energia, com a diversificação das suas fontes e foco na transição energética; e (ii) empresa de grandes e importantes investimentos produtivos do país (entre o último PN do governo Bolsonaro e o PN 2025-29, os investimentos planejados cresceram 42%). No entanto, ainda podemos ver a política de remuneração aos acionistas como um enorme dreno aos recursos da companhia, impedindo que a expansão dos investimentos ocorra em velocidade condizente com as necessidades reais da nossa economia e da transição energética.

* Eric Gil, é economista do Ibeps e da AEPET-BA

Fonte: Sindipetro SJC


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