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A Petrobrás, em 2023, desembolsou o maior valor em dividendos entre suas concorrentes globais, apesar de ter registrado o menor investimento líquido do grupo. Este fato ilustra uma discrepância na estratégia de distribuição de recursos da companhia, que parece privilegiar a remuneração de acionistas em detrimento do investimento no próprio crescimento e na sustentabilidade de longo prazo da empresa.

De acordo com os dados divulgados, o investimento líquido da Petrobrás em 2023 foi de apenas 51% da média das demais empresas petrolíferas. Por outro lado, a relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos foi 4,2 vezes superior à média das outras grandes petrolíferas. Esse cenário sugere uma política de gestão orientada para a maximização do retorno imediato dos acionistas, em vez de equilibrar de maneira justa os interesses de todas as partes envolvidas, incluindo a sociedade brasileira e o próprio futuro da empresa.

Análise feita pelo presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, sobre o histórico da Petrobrás e os resultados de grandes petrolíferas internacionais mostra que os dividendos que têm sido pagos pela alta direção da estatal, desde 2021, são realizados em detrimento dos investimentos líquidos e, por este, entre outros fatores, são insustentáveis. “Sob a direção do governo Lula e a gestão de Prates, nada mudou até agora”, afirma ele.

 

Leia o artigo Direção da Petrobrás mantém investimentos baixos e dividendos insustentavelmente altos em 2023

 

Segundo Coutinho, a estratégia de remuneração dos acionistas adotada pela direção da Petrobrás, embora tenha sofrido uma revisão, manteve a essência de sua política anterior, se concentrando no pagamento de dividendos trimestrais e proporcionais ao fluxo de caixa livre. Essa política assegura dividendos de 45% do fluxo de caixa livre a cada trimestre, uma redução modesta em comparação aos 60% anteriores, mas ainda assim uma porcentagem generosa.

Em 2023, a empresa investiu apenas US$ 8,7 bilhões, um valor significativamente inferior à média histórica de cerca de US$ 22 bilhões por ano e muito abaixo do patamar de investimentos de US$ 53 bilhões registrado entre 2009 e 2014. Esse decréscimo drástico nos investimentos é ainda mais alarmante diante da necessidade urgente de modernização e expansão da infraestrutura energética do país, em um contexto global de transição para fontes de energia mais limpas e renováveis.

A posição do presidente Lula, que defende uma Petrobrás que atenda às necessidades dos 200 milhões de brasileiros e não apenas dos acionistas, reflete uma crescente preocupação com a direção que a empresa vem tomando.

A Associação dos Engenheiros da Petrobrás, núcleo Bahia (AEPET-BA), ressalta a necessidade de um debate mais amplo sobre o papel das empresas estatais na economia e na sociedade. Enquanto a distribuição exagerada de dividendos pode beneficiar os acionistas no curto prazo, a falta de investimentos compromete a capacidade da empresa de se adaptar às mudanças do mercado, de inovar e de contribuir de forma significativa para o desenvolvimento sustentável do país.

É urgente que a Petrobrás, sob a liderança do governo e da gestão atual, encontre um equilíbrio mais justo em relação à distribuição de dividendos e mais investimentos para o desenvolvimento do Brasil, que reduza o desemprego e aumente a renda.


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