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Salvador, a primeira capital do Brasil, tem sofrido com o aumento da violência, do desemprego e com a destruição do meio ambiente.

Parabéns, Salvador! São 473 anos de muita história de resistência e luta na capital da Bahia. Esse é o lugar onde o povo sobe e desce pelo Elevador Lacerda, anda com fé até a Colina Sagrada, carrega o Patuá dos Orixás, toma banho nas praias que ocupam mais de 40 km de orla e aprecia a baianidade nagô no Pelourinho. Mas, Salvador também é uma cidade com muitos problemas e desigualdade social, além dos recordes nos índices de violência.

Quem conhece a nossa cidade, sabe que um dos portais de entrada é pelo Aeroporto, que sempre terá o nome de 2 de Julho. Nele, tem um cartão postal conhecido como Bambuzal – caminho coberto por centenas de bambus. Infelizmente esse grande atrativo como uma boa primeira impressão da capital baiana não vem tendo o devido cuidado e sofre com o descaso das autoridades. O Bambuzal está abandonado e sem o devido replantio. Além disso, tem vários bambus caídos e galhos secos, levando risco aos motoristas e pedestres que passam pela Avenida do Aeroporto.

Outro ponto que merece a sua atenção, são as Dunas do Abaeté. O lugar é sagrado para o culto das religiões de matriz africana e vem sofrendo com diversas intervenções – que a prefeitura diz ser de requalificação, mas são formas de destruição desse ambiente natural e religioso. Na semana passada, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), através da promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz, recomendou que a Seinfra – Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas de Salvador, suspendesse imediatamente as obras nas Dunas.

O tal projeto prevê a instalação de uma sede, auditório, sanitários e espaços de lazer e atividades religiosas. Só que isso não visa a preservação ambiental e nem tão pouco a valorização das religiões de matriz africana – que tentaram mudar o nome do Abaeté para “Monte Santo”, numa clara perseguição e ofensiva dos evangélicos. Em diversos protestos, ambientalistas e entidades denunciam as várias irregularidades no projeto, já que fica à borda de uma Área de Proteção Ambiental (APA) Lagoas e Dunas do Abaeté. Esse lugar é o último remanescente de dunas e restinga e que conta com mais de mil espécies de flora e fauna, sendo nativas e migratórias.

Salvador, cidade violenta

Um levantamento feito pelo Jornal Correio a partir de dados da SSP – Secretaria de Segurança Pública, aponta que 20.137 pessoas morreram de forma violenta entre janeiro de 2011 e junho de 2021. São números alarmantes e que refletem a falta de segurança na Capital Baiana. Esse número é maior do que a população inteira da cidade de Pindobaçu, no Sertão baiano, e pouco menor do que a população de outras cidades do interior como Abaré, Baixa Grande, Barra da Estiva, Maracás e Maraú, com população menor que 21 mil pessoas.

De 2011 a 2021, quem mais foi alvo da violência em Salvador e na região metropolitana foram homens entre 17 a 26 anos. Especialistas apontam que a maior parte desses mortos são jovens, negros e moradores da periferia. Isso, sem contar as mortes causadas por ações policiais, pois não entram nas estatísticas feitas pela própria SSP. A faixa de idade com o maior número de vítimas foi a de 19 anos. Quatro bairros da periferia de Salvador se destacam na lista de mortes em 2021: São Marcos, onde 87,3% da população se autodeclara preta ou parda, São Caetano, Valéria e Fazenda Grande do Retiro.

A capital do desemprego

O reflexo do desemprego em Salvador é visto todos os dias nas ruas da cidade, através do grande número de trabalhadores informais – conhecidos como camelôs. Temos também os baleiros, que comercializam seus produtos, cada vez com mais frequência, nos ônibus da capital baiana. De acordo com o IBGE, os dados de 2020 apontam Salvador como a segunda capital do país com maior número de pessoas desocupadas, que não trabalham e procuram trabalho; perdendo apenas para Manaus (AM).

A vereadora Marta Rodrigues (PT), preside a Comissão de Direitos Humanos e de Defesa da Democracia Makota Valdina. Ela comentou sobre esse triste índice que Salvador vem carregando ao longo dos anos, agravada pela pandemia e que infelizmente, as autoridades pouco fazem para mudar essa situação.

“Salvador já tinha antes mesmo da pandemia, conforme o IBGE, um índice de 487 mil trabalhadores na informalidade antes da pandemia, sem falar nos totalmente desocupados. Após a pandemia, a situação piorou o desemprego, pois muitos destes informais deixaram de exercer suas atividades devido às restrições da pandemia. Então a situação se agravou muito. Ainda hoje, as políticas públicas para inserção dessas pessoas no mercado de trabalho são escassas e precisamos resolver isso urgentemente para impedir ainda mais o aumento da fome e da miséria em nossa capital”, comenta Marta, em reportagem para a Agência de Notícias das Favelas – ANF.

Triste realidade que atinge Salvador, uma cidade visitada por turistas de todo o mundo atraídos pelas belezas naturais, seu povo, sua cultura e que poderia atrair muito mais se não fosse tão desigual. A AEPET-BA parabeniza a cidade de Salvador e aos soteropolitanos que mesmo com tanto sofrimento não perdem a ginga, é o Carnaval, a maior festa do mundo, uma alternativa de emprego e renda. No aniversário de 473 anos, Salvador tem muita história para contar já que foi a primeira capital do país, por isso mesmo, o povo precisa identificar, valorizar quem são os verdadeiros heróis que lutaram e lutam diariamente para torná-la mais justa, antirracista, igualitária e menos violenta.


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